Violência policial
Nordestino vive entre o medo e a resistência
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No Nordeste, a sirene já não anuncia apenas a chegada da polícia — anuncia também o medo. Nas vielas apertadas, nos becos de chão batido, nos bairros onde a vida corre mais depressa do que o relógio, o nordestino aprendeu a diferenciar o som do vento do som do helicóptero. E, quando ele passa, tremendo as telhas, não é a sensação de proteção que toma conta do peito, mas sim a velha e cansada pergunta: “Quem vai pagar o preço dessa operação?”
As operações policiais chegam como temporais de verão: barulhentas, violentas e sem aviso. Entra-se casa adentro, revira-se armário, derruba-se porta — e, muitas vezes, não se encontra o tal “perigoso” que justificaria tamanha fúria. O que fica, depois que a poeira baixa, é o olhar assustado das crianças, o silêncio desconfiado das mães e a certeza amarga de que a segurança pública não passa perto de quem mais precisa dela.
O nordestino, acostumado a enfrentar seca, fome e desigualdade, agora enfrenta outro tipo de tormenta: a gestão da segurança que parece sempre mirar para o lado errado. Os números crescem, as promessas se repetem, e a sensação de abandono também. As ruas, antes palco de festas, sanfonas e passos apertados, viram campo de confronto — e o povo continua no meio, espremido entre criminosos que mandam e governos que falham.
Há quem diga que “é assim mesmo”, que operação policial é sinônimo de força. Mas, por aqui, força demais vira violência, e violência demais vira rotina. O nordestino quer segurança, claro — mas quer uma que proteja, e não que castigue. Que respeite, e não que humilhe. Que entenda que dentro de cada casa há histórias, memórias, sorrisos… e não apenas suspeitos.
Ainda assim, mesmo diante das falhas, o povo segue. Tem medo, sim, mas também tem coragem. Tem revolta, mas tem luta. Tem a esperança teimosa de que um dia a segurança será algo mais do que carros blindados e estampidos na madrugada. Será cuidado. Será presença. Será direito.
Enquanto isso não chega, o nordestino continua seu caminho: cabeça erguida, passos firmes e o desejo profundo de viver em um lugar onde a polícia seja aliada, e não ameaça. Onde o Estado olhe para a vida antes de olhar para o arsenal. Onde segurança seja mais do que operação — seja dignidade.
E, como sempre, ele resiste. Porque resistir, por aqui, é tão natural quanto respirar.