Clarice, A Última Araújo, de Paulo Souza, da editora Litteralux

Costuma circular no meio literário a ideia de que o crítico é sempre um escritor frustrado. Contudo, Paulo Souza — blogueiro, contista e crítico literário — surge para quebrar essa regra. Em seu romance de estreia, Clarice, A Última Araújo. o autor nos conduz a um universo místico habitado por querubins e anjos. O que poderia ser apenas mais um livro de fantasias e crendices, não é, não, meu caro leitor. A história é tecida a partir do encantamento de um querubim por uma bela mortal, ponto que impulsiona um enredo que toca em temas importantes e dolorosos como prostituição infantil, corrupção, hipocrisia, amor e política.

O sonho de conhecer a chuva faz com que a pequena e formosa Clarice seja ludibriada pela experiente cafetina Joana Critério, que a leva para morar na capital cearense. A promessa de uma vida melhor é um argumento recorrente usado por aliciadores de menores para introduzir meninas no submundo da prostituição. A jovem sonhadora fugia da praga da seca — supostamente provocada por uma antepassada que, ao se deitar com um querubim, teria amaldiçoado sua cidade natal, Novo Oriente, que nunca mais recebeu uma única gota de chuva.

Além da maldição da seca, outro fenômeno acomete a família Araújo, da qual Clarice descende: só nascem mulheres, tão belas que enlouquecem todos os homens com quem se relacionam. Para os moradores da cidade, alimentados pelas fofocas da viúva Das Dores, os Araújo são os verdadeiros culpados por toda a desgraça.

Paulo Souza demonstra domínio e sensibilidade ao construir ritmo e fluidez. Suas palavras surgem como música aos ouvidos, proporcionando uma leitura agradável e envolvente, capaz de nos transportar ao mundo mágico e doloroso de Clarice.

Não há dúvidas: com Clarice, A Última Araújo, Paulo Souza se firma como um dos nomes promissores entre os romancistas da nova geração de autores nacionais.

………………..

Daniel Barros é escritor.