Urubus de gravata
Bolsonarismo festeja matança no Rio mirando as eleições do próximo ano
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Como urubus em busca de carniça, governadores da direita estiveram semana passada no Rio de Janeiro para, supostamente, dar apoio a Cláudio Castro, mandante da chacina de 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão. Como São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Santa Catarina, entre outros estados, também sofrem com o grave problema da violência desenfreada, ficou claro que a ideia nada tem a ver com as fragilidades da segurança pública. Como politiqueiros de quinta categoria, a união das excelências é meramente política. Afinal, todas disputarão as eleições de 2026.
Além de criar narrativas contra o governo federal, consequentemente contra a vantagem de Luiz Inácio na corrida presidencial, o encontro dos urubus de gravata serviu somente para ajustar os interesses pessoais e políticos de Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO), Eduardo Riedel (MS) e Jorginho Mello (SC). No convescote palaciano, eles se solidarizaram com Cláudio Castro, fizeram críticas conjuntas ao presidente Lula, acusado de falta de apoio nas operações de combate ao crime organizado, e, de algum modo, comemoraram as dezenas de óbitos.
De memórias curtas, neurônios atrofiados e convicções administrativas ultrapassadas, os governadores, tidos e havidos como integrantes da política do ódio, só não perceberam que, ao não tocar um dedo no alto da pirâmide do Comando Vermelho, passaram recibo, pois, craques nas conversas sem nexo, são péssimos nas demonstrações de controle do crime organizado. Enquanto eles se reúnem para um cafezinho requentado, as facções criminosas ganham terreno em todo o país.
Em alguns dos 26 estados e no Distrito Federal, notadamente no Rio e em São Paulo, faz tempo que os criminosos assumiram papéis que antes eram de exclusividade do Estado. Se dariam ou não certo é outra história, mas o governo Lula 3 apresentou propostas objetivas para enfrentar o crime organizado. Refiro-me à PEC da Segurança Pública, bombardeada pelos mesmos governadores, sob o argumento de que ela tiraria autonomia dos estados.
Criado no calor dos fatos, o Escritório de Combate ao Crime Organizado pode não ser a melhor iniciativa, mas certamente será um primeiro passo para mostrar à rede empresarial da bandidagem que o Brasil está unido para acabar – no mínimo reduzir – com o poder das facções, hoje instaladas e faturando em quase todos os estados brasileiros. Nesse período pré-eleitoral, tudo que Lula da Silva propõe para integrar o país desagrada os representantes da direita, a maioria com seus fuzis apontados para 2026. Não foi diferente com o tal escritório.
Mesmo em caráter emergencial, a proposta vem sofrendo resistência dos governadores candidatos à Presidência da República e ao Senado Federal, caso de Cláudio Castro. Em lugar das críticas, as excelências bem que poderiam anunciar pelo menos uma razão pela qual não havia um único líder do Comando Vermelho na lista de presos e nenhum entre os cadáveres da chacina do Rio. Decadência ou tolerância da polícia, incompetência da autoridade maior ou preocupação futura com a falta de financiamento sujo para as campanhas políticas? Não sei. O que sei é que é muito mais fácil criticar. E isso os inoperantes governadores fazem com maestria.