Lâmpada mágica
Osvaldo, o gatuno
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Foi por impulso. Estava ali, tão perto das mãos tão acostumadas a surrupiar, que Osvaldo, gatuno de responsa, não teve dúvida. Bastou um movimento ligeiro e a lâmpada deslizou para o fundo do bolso do paletó.
O sujeito, assim que se viu a salvo, já dobrando a esquina, ainda olhou para trás para ver se, por qualquer falha na execução, o segurança da loja estaria em eu encalço. Nada! Nem sinal do troglodita. Sorriu.
Seria mesmo mágica? Teria pertencido ao Aladdin? Pelo que Osvaldo se lembrava, aquilo não passava de uma das tantas histórias de As mil e uma noites. Deu de ombros, mesmo porque, como era dourada, imaginou que valeria mais. Quanto? Cem? Duzentos? Quinhentos?
— Dez paus.
— Dez?
— É pegar ou largar, meu amigo.
Osvaldo encarou o possível comprador e, em seguida, lhe deu as costas e foi direto para o pequeno apartamento. Mal chegou, retirou a lâmpada do bolso e a colocou sobre a mesa. Foi tratar de arrumar algo para forrar o estômago, ainda mais depois de tanta correria.
Nada além do resto da marmita do dia anterior. Antes tivesse aceitado os dez reais. Ao menos, daria para comprar um refrigerante e um sonho na padaria. Sonho. Quando foi que os seus sonhos teriam se evaporado?
Nem esquentou a comida. Colocou tudo no prato e foi se sentar à mesa. Uma garfada, duas, três. Não teve nem tempo de sentir o prazer de mastigar. Prazer? Arroz, feijão, macarrão e metade de um ovo? Tudo frio?
Lembrou-se da lâmpada à sua frente e, como ninguém o estava observando, agiu que nem menino. Esfregou a lâmpada na esperança de um gênio aparecer. Bobagem!
O homem quase caiu da cadeira quando viu que uma fumaça saiu pelo bico. Não tardou, lá estava o gênio. Enorme, de cavanhaque e vestido a caráter. Osvaldo, apesar de assustado, tentou dialogar com aquele ser que parecia ter saído das páginas de um conto árabe.
— Meu irmão, tu é mesmo o gênio da lâmpada?
— Sou.
— Que maravilha! Posso fazer três pedidos, né?!
O gênio observou o seu libertador, abriu bem os olhos, soltou uma gargalhada e disse:
— Que nada! Fui!
Saiu pela janela e sumiu no mundo.
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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’ (Vencedor do Prêmio Literário Clarice Lispector – 2025 na categoria livro de contos).
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