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Modismo

Pelos ou não pelos, eis a questão

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@donairene13 - Foto Francisco Filipino

Apesar de nas redes sociais eu usar o nome Dona Irene, não me considero uma pessoa velha. É um apelido carinhoso, quase um personagem que inventei para poder falar do cotidiano com humor e afeto. Eu nasci em meados dos anos 1980, uma época em que o telefone tinha fio e o máximo de tecnologia portátil era o walkman. Mas me alegra dizer que sinto o tempo passar aos pouquinhos. Envelhecer, pra mim, tem sido mais um aprendizado do que uma perda.

Às vezes, me surpreendo quando percebo que algum fato que eu presenciei, e que ainda me parece tão recente, aconteceu há mais de vinte anos. Parece que foi ontem que eu estava assistindo a novelas com trilhas sonoras em CD, gravando músicas da rádio numa fita cassete, ou indo ao cinema ver filmes que hoje são “clássicos”. Essas pequenas constatações me lembram de que o tempo realmente voa, mas também que ele me trouxe muitas histórias boas.

Alguns modismos de hoje, no entanto, conseguem me fazer sentir meio velha. Um deles é a forma como a sociedade atual vê os pelos. Parece que há uma verdadeira demonização dos pelinhos e ninguém mais pode ostentá-los por puro gosto pessoal. Homens com peitos e axilas depiladas se tornaram comuns. Mulheres, então, parecem quase obrigadas a manter o corpo inteiro lisinho, como se a natureza precisasse ser constantemente corrigida.

Mas eu queria dizer pra essa geração que nem sempre foi assim. Houve um tempo em que os pelos eram apenas… pelos. Um traço natural do corpo humano, algo que existia e pronto. Havia charme nos fios, liberdade nas pernas por fazer, e até certa ousadia em deixar as sobrancelhas viverem sem a ditadura da pinça.

Não é saudosismo, é apenas a lembrança de que a beleza sempre foi (ou deveria ser) uma escolha pessoal, não uma imposição coletiva. E se ser “Dona Irene” significa lembrar disso, então que bom. Porque envelhecer, no fim das contas, talvez seja justamente isso: ter o direito de ser quem se é, sem precisar pedir desculpas por isso.

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