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Direita em ação

Brasil ganha consórcio do terror e da morte

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Autor/Imagem:
Antonio Eustáquio Ribeiro - Foto de Arquivo/Fernando Frazão - ABr

Na última semana o Brasil assistiu estarrecido a uma das maiores matanças que o Estado infligiu em sua própria população: foram 117 pessoas “supostamente suspeitas”, e 4 policiais que foram criminosamente jogados pelo governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL) numa dantesca operação que, de saída, sabia-se desastrosa: 2.500 policiais armados dentro de uma comunidade com mais de 100.000 moradores para, segundo o discurso oficial, exterminar o Comando Vermelho (CV), a maior e mais perigosa facção do crime organizado naquele Estado.

O mais estarrecedor foi ver logo em seguida um grupo de governadores tendo como destaque Romeu Zema (MG), Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Jorginho Melo (SC), Eduardo Riedel (MS) e Celina Leão, vice-governadora do DF, todos de extrema direita, cristãos segundo os próprios, se unirem em defesa da letal ação do governo fluminense exaltando aquela matança, em flagrante contrariedade à doutrina cristã que celebra a vida. Ali firmaram um pacto que só pode ser denominado como um consórcio do terror e da morte, pregam a eliminação física de “supostos bandidos”, sem processo, em desacordo com a Constituição e o código penal brasileiros; claro desde que estes “bandidos” morem em comunidades pobres e favelas, locais onde certamente não serão encontrados os chefões do crime.

Todos, absolutamente todos os especialistas e estudiosos em segurança pública condenaram a ação. Todos são unânimes em afirmar algo que se sabe já há muito tempo: combater o crime organizado de forma efetiva só tem lugar com o uso de inteligência e estratégia, com ações que interrompam o fluxo de dinheiro que abastece estas organizações. Um exemplo claro está em curso contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção criminosa do país: em operações que buscam desbaratar fontes de financiamento do grupo, inúmeros marginais foram presos, inclusive gente graúda de dinheiro, em endereços nobres de São Paulo, e sem nenhuma morte.

Mas este consórcio do terror não está interessado no fim destas organizações por uma simples questão: a continuidade delas é combustível para suas campanhas fraudulentas de combate à criminalidade, pois apelam para o medo imediato vendendo a falsa imagem de que a matança indiscriminada é o caminho. Se o fosse, o Rio de Janeiro deveria ser um oásis de paz, tranquilidade e segurança, visto que desde o surgimento do CV, há mais de uns 40 anos, foram já inúmeras ações com inúmeras mortes supostamente para acabar com a facção, e ela fica cada vez mais forte.

Este consórcio do terror e da morte evidencia que a letal ação de Cláudio Castro foi muito bem pensada e se tratou de uma peça publicitária de campanha política que custou a vida de cidadãos (mesmo sendo supostamente suspeitos, são cidadãos que teriam direito à presunção de inocência e preservação da vida, devendo prestar contas à justiça e não assassinados), e de policiais. Não é coincidência que no mesmo momento o grande ídolo internacional deles, Donald Trump, mata indiscriminadamente pessoas na América do Sul a pretexto de combater o narcotráfico.

Não foi nada acidental a rapidíssima mobilização destes governadores, os discursos sincronizados, a mesma retórica violenta e falsa de combate ao crime e a tentativa de transferir para a União a responsabilidade que constitucionalmente cabe aos Estados, foi tudo muito bem pensado. Adiciona-se a isto o fato de o governador Cláudio Castro realizar esta operação no exato momento em que o TSE inicia o julgamento de uma ação por abuso de poder econômico e político, que pode cassar o seu mandato.

Outro elemento cristalino que mostra o interesse unicamente político de toda a orquestração é que Cláudio Castro, além de dificultar ações federais de combate ao financiamento do crime organizado, liderando até a luta para a reabertura de uma refinaria de petróleo que carreia recursos para o PCC segundo a Polícia Federal, é contra a PEC da Segurança Pública que propõe uma integração das polícias federais, estaduais e municipais, além de criar mecanismos específicos contra facções criminosas. Aliás, um fato que evidencia a clareza de que Cláudio Castro não tem interesse na eliminação do CV pode ser conferida em uma foto que circula nas redes sociais: ele confraternizando com o deputado estadual TH Joias, o maior fornecedor de armas ao CV, amigo pessoal e aliado político de Castro, preso recentemente, sobre quem o governador não fez um comentário sequer quando da prisão.

Quem quer combater o crime deve focar primeiramente em quem manda no crime. TH Joias é um dos grandes do crime, mas estes não interessam ao governador nem aos componentes do consórcio do terror e da morte. Para estes consorciados, matanças indiscriminadas de supostos bandidos, em meio a um temor generalizado que oblíqua um julgamento racional dos eleitores, rende muito mais do que o combate inteligente e efetivo ao crime.

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Antonio Eustáquio é correspondente de Notibras na Europa, sem tirar os olhos das mazelas no Brasil

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