Labores antigos
“Emprego” de político é mais rentável do que quem vive do seu próprio negócio
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Embora seja egresso de meados do século passado, desconheço o quantitativo de profissões existentes no mundo. Também não sei dizer qual a pior, a mais cansativa e a mais proletária. Com toda certeza, desde os primórdios, o melhor, mais tranquilo e infinitamente mais rentável é o “emprego” de político, particularmente o de deputado federal e o de senador do Centrão. Oficialmente, ferramenteiro, cozinheiro, caçador, lanterninha, telefonista, leiteiro, linotipista, acendedor de postes e vendedor de enciclopédias estão entre as carreiras mais antigas do mundo.
Mesmo sem dados comprovados, sei ainda que nenhuma delas foi tão perseguida como o ganha pão como prostituta, oficiosamente o labor mais antigo do planeta. Aliás, ao contrário do que dizem alguns historiadores, a atividade envolvendo o próprio negócio tem registros sumérios de 2400ª.C, mas é bem mais recente do que ocupações como cozinhar, caçar e obstetrícia. Parafraseando Ronald Reagan, ex-ator e ex-presidente dos Estados Unidos, independentemente do tempo de uma e de outra, percebo enorme semelhança entre prostituição e política, com todo respeito à primeira.
Do ponto de vista da desnecessidade, profissões bem parecidas com a de político são as de escritor de mensagens de biscoitos da sorte e a de assistente de televisão, cujo trabalho é assistir programas televisivos para avaliar seu conteúdo. Entre as que eu indicaria para deputados e senadores aposentados, os destaques são a de provador de ração animal, sexador de pintinhos, que determina o sexo de aves recém-nascidas, e a de testador de toboágua, trabalhador que avalia a segurança e diversão de escorregadores aquáticos.
A sugestão para determinados ex-presidentes é o posto de profissional de “zumbi”, tipo contratado para assustar plateias de shows, cinemas, circos e de manifestações na orla de Copacabana e na Avenida Paulista. Testador de jogos digitais (tester) parece um cargo para os generais de pijama, mas que garantiram para muitos deles um segundo contracheque durante o governo do Jair. Pagos para jogar videogames, esses profissionais identificam falhas nos joguinhos, não testam, mas inventam fraudes nas urnas eletrônicas e, mesmo sabendo que elas são “impenetráveis”, sugerem melhorias para eventualmente garantir a eleição do “comandante”.
É claro que os congressistas e os aspones do PL, do PP, do Republicanos e do União Brasil pensam em algo menos pesado do que brigar infrutiferamente com o governo Lula. Como não gostam do pesado, nada melhor do que indicá-los para enxugadores de gelo, engarrafadores de fumaça, abraçadores profissionais, cheiradores de axilas e de automóveis, organizadores de pedidos de casamento, estilistas de comida, designers de jardins de anões, chefe de audição de cursos para surdos e piloto de helicóptero dos fios de energia.
Como a turma ligada ao bolsonarismo trabalha de sol a sol, desde que seja na sombra, guardei as melhores opções para o fim da narrativa. Salários, mordomias e carros oficiais à parte, posso garantir que existe vida além de brigar por Luiz Inácio Lula da Silva e chorar por Jair Messias Bolsonaro. Desconheço o salário inicial, mas duvido que qualquer cidadão pago para se vestir de verde e amarelo nos dias de semana vai abrir mão de um carguinho de ordenhador de cobras, carpideira, padrinho profissional de casamento, movedor de icebergs em rios, instrutor de surf em piscina rasa, cuidador de ilha paradisíaca, degustador de sorvetes e arrecadador de emendas parlamentares. Currículos para a redação de Notibras.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras