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Marina Dutra

A Ferida da Injustiça – A Prisão do Perfeccionismo que Congela a Alma

Publicado

Autor/Imagem:
Marina Dutra - Foto Francisco Filipino

Se a traição fala da quebra da confiança, a ferida da injustiça nasce da violação de um princípio fundamental: o do respeito pela individualidade. Esta ferida abre-se quando a criança cresce num ambiente emocionalmente frio, rígido ou crítico, onde suas necessidades e expressões autênticas são sistematicamente invalidadas. O progenitor do mesmo sexo é frequentemente experimentado como distante, autoritário ou impossível de agradar. A mensagem internalizada é: “Quem eu sou não é bom o suficiente”.

Quem carrega essa ferida desenvolve uma relação de tensão constante com a autenticidade. A crença nuclear que se instala é: “Preciso ser perfeito para ser amado”. Diferente de outras feridas, aqui há uma busca obsessiva por equilíbrio e justiça que, ironicamente, cria um desequilíbrio interno profundo.

Para sobreviver a este ambiente emocionalmente hostil, a psique constrói fortalezas de controle emocional e perfeccionismo:

• A Máscara do Rígido: Esta persona acredita que, se mantiver tudo sob extremo controle – especialmente suas emoções – poderá evitar a dor do julgamento. Torna-se hiper-racional, evita demonstrar vulnerabilidade e frequentemente adota uma postura crítica em relação aos outros.

• A Máscara do Supercompetente: Busca validação através de conquistas e perfeição externa. Acredita que, se for impecável em tudo que fizer, finalmente receberá o reconhecimento e amor que lhe foram negados.

• A Máscara do Justiceiro: Desenvolve um senso rígido de moralidade e justiça, tornando-se intolerante com qualquer forma de “imperfeição” alheia. Projeta nos outros sua própria autocobrança excessiva.

As manifestações desta ferida permeiam a vida adulta através de padrões de autoexigência e frieza emocional:

• Nos Relacionamentos: Dificuldade em expressar necessidades emocionais ou demonstrar afeto espontaneamente. Tendência a escolher parceiros críticos ou emocionalmente indisponíveis, recriando o ambiente familiar de frieza.

• Na Vida Profissional: Perfeccionismo paralisante, dificuldade em delegar tarefas e tendência ao vício em trabalho. Vive com medo constante de cometer erros ou ser julgado inadequado.

• Na Expressão Emocional: Incômodo com demonstrações de sentimentos, tanto próprios quanto alheios. Frequentemente é visto como “frio” ou “distante”, quando na verdade está protegendo uma sensibilidade extremamente ferida.

• Na Saúde Física: Tensão muscular crónica, especialmente nas costas e ombros – reflexo da rigidez emocional. Dificuldade em relaxar e usufruir do prazer.

A cura da ferida da injustiça é uma jornada de libertação da tirania do perfeccionismo. Requer a coragem de substituir a rigidez pela autenticidade.

O caminho de integração envolve:

• Permitir-se Ser Imperfeito: Praticar a aceitação das próprias limitações e vulnerabilidades. Compreender que a verdadeira força reside na capacidade de ser autêntico.

• Reconectar-se com as Emoções: Aprender a identificar, nomear e expressar sentimentos de forma saudável. Permitir que a criança interior ferida tenha voz.

• Cultivar a Autocompaixão: Substituir o crítico interno por uma voz amorosa e acolhedora. Entender que merece amor simplesmente por existir, não por conquistas.

A cura acontece quando conseguimos trocar o “preciso ser perfeito” por “mereço ser amado por quem sou”. É o retorno à nossa verdadeira essência – livre, autêntica e digna de amor incondicional.

Esta série sobre as cinco feridas emocionais chega ao fim, mas nossa jornada de autoconhecimento continua por aqui.

Reconhecer a existência dessas feridas emocionais é um passo fundamental, porém a jornada de transformação verdadeira começa quando nos dispomos a ressignificar essas marcas. Um terapeuta qualificado poderá guiá-lo no processo de compreender a origem dessas dores, desenvolver recursos internos mais saudáveis e, gradualmente, construir relações mais autênticas e satisfatórias.

Lembre-se: buscar ajuda não é sinal de fragilidade, mas um ato de coragem e amor-próprio. Permitir-se ser acompanhado nesse processo pode ser a diferença entre reconhecer as feridas e verdadeiramente curá-las.

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Marina Dutra – Terapeuta Integrativa
Instagram: @sersuperconsciente
E-mail: sersuperconsciente@gmail.com

 

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