Martelo
BATE UM PREGUINHO
Publicado
em
Amanheceu na Guarda.
Acordou com voz aguda:
“Bate um preguinho…”
Abri os olhos e a voz soava mais aguda:
“Bate um preguinho…”
Localizado, percebi que o som da mulher-gralha vinha do outro lado do muro e da rua.
Chapei o dia e saí pra uma trilha.
Nada de Pedra do Urubu, Utopia. trilhas fodas.
Fui beirando o rio da Madre até o ma
Dia lindo. Completo.
Chego na pousada e vou pro banho.
E lá vem a voz aguda:
“Bate um preguinho…”
Pirei e gelei.
Acordei com ela e o pedido contagioso.
Anoiteceu e ela retorna.
Mal agouro? Ziquizira? Praga de traído? O que “são” isso, caceta?!: Deito, desligo tudo, menos a vozinha:
“Bate um preguinho…”
Tento contar carneirinhos.
Nada.
Apagou
Acordo com o nascer do Sol.
O casal de aracuãs já me acordaram com seu cântico de paixão.
Vivem em uma árvore ao lado de meu chalé.
Abro a Jane lá e saúdo os meus vizinhos:
“Bommm Diaaaa…
Bom dia dona aracuã…muito linda hoje!”
Parquê?
O senhor aracuã me fulmou com o olhar.
Nisto, numa onda sonora ouço a voz:
“Bate um preguinho…”
Olhei para a senhora aracuã e ela gritava estérica:
“Bate um preguinho…”
Desde então, em minha maleta de ferramentas nunca mais guardei martelo e nem qualquer tipo de preguinhos.
…………………….
Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador que não sabe bater um prego. Vive na Guarda do Embaú, litoral Sul de SC.