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Silêncio dos deuses

O fim do Sol Inca e a chegada do homem branco

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Autor/Imagem:
Paulus Bakokebas - Foto Editoria de Artes/IA

Antes que os navios do Velho Mundo rasgassem os mares em busca de ouro e glória, os povos andinos já olhavam para o alto, reverenciando o Sol como o pai de toda a vida. Inti, o deus solar, reinava soberano no coração dos Andes, enquanto Pachamama, a Mãe Terra, sustentava o ciclo da colheita e do renascimento. Para os incas, o mundo era um organismo vivo — Pachacútec, o transformador do tempo e do espaço, ordenara o universo em harmonia divina.

Nas montanhas, os sacerdotes guardavam segredos do cosmos. As cidades, como Cuzco e Machu Picchu, não eram apenas centros urbanos — eram espelhos celestes, desenhados para dialogar com as constelações. Tudo obedecia a um equilíbrio sagrado entre o céu, a terra e o homem.

Mas um dia, o horizonte mudou de cor. Homens pálidos e barbudos, vindos do leste, desembarcaram com espadas que reluziam como trovões. Trazendo cruzes e pólvora, falavam de um deus único que exigia submissão. Os incas, ao vê-los, acreditaram que os deuses antigos talvez tivessem regressado — ou que Viracocha, o criador do mundo, havia mandado mensageiros de outro tempo.

Logo perceberam o engano. O encontro tornou-se conquista. O ouro, que para eles era o suor do Sol, transformou-se em motivo de destruição. Templos foram saqueados, rituais proibidos, e o império — que se dizia eterno — sucumbiu diante de um punhado de conquistadores guiados por Francisco Pizarro.

O silêncio dos deuses ecoou pelos Andes. Inti se escondeu nas sombras das montanhas, Pachamama chorou rios inteiros, e Viracocha, invisível, recolheu-se ao mito. Contudo, o espírito inca resistiu — nas canções que sobrevivem, nos rostos que carregam o sangue dos ancestrais, e na fé que, mesmo sincretizada, ainda sente o pulsar das antigas divindades.

A chegada do homem branco não apenas encerrou um império — mudou o eixo do sagrado. O Sol foi coberto por nuvens estrangeiras, mas nunca deixou de brilhar dentro de quem ainda honra os deuses das alturas.

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