Memórias
Lembranças coletivas cinéfilas
Publicado
em
Foi na sexta-feira, 14/11/2025, às 18h, no Centro Integrado Cultural (CIC), em Florianópolis, que elas se reencontraram. A protagonista do dia, Brígida Poli, autografava o livro “No escurinho do cinema”, com selo da Editora Insular, sobre o qual J. Emiliano Cruz já escreveu no Café Literário Notibras.
Clara Amélia compareceu ao evento, trajando um vestido rosa. Para surpresa complementar, Edna não estava usando vermelho.
Os convidados de Brígida: pessoas alegres e falantes compunham o clima de celebração em torno do lançamento e do reencontro com velhos conhecidos.
O Paulo, naquele dia apenas “marido da escritora”, e o Rolim, editor, compunham o clima receptivo e harmonioso, (1) assim como Clara, em colóquio com Paulo Brito, jornalista fundador do Curso de Jornalismo da UFSC. Clara, ao aceitar a lembrancinha Bib’s da marca Neugebauer (bolinhas de chocolate), oferecida pela escritora, lembrou-se de uma importante figura dos cinemas antigos: o vendedor ambulante que no intervalo do filme gritava: “Baleiro! Balas! Baleiro! Balas!”
Nos anos 1950-1960, como versões do Bib’s, havia o crocante, ” Bonzinho”, e o de amendoins cobertos por chocolate, chamada “Gauchinho” (2).
Edna, ao abrir seu exemplar autografado, lembrou-se do livro de Brígida publicado em 2019 sob o título “As Mulheres da minha vida”. Naquele título, uma das mulheres homenageadas pela autora é a diretora de cinema e de teatro Lina Wertmüller. Além de referir ao filme “Pasqualino sete belezas”, que Edna também assistira na juventude, Brígida faz outro registro muito interessante. Em 2006, em Florianópolis, no CIC, viu a diretora italiana, no dia em que assistiu ao espetáculo teatral “Pecados da alegria” que foi sobre a música no cinema.
Dois dias depois do lançamento de ” No escurinho do cinema”, Clara e Edna passaram a trocar impressões sobre a leitura do livro. (1).
Numa das mensagens, Clara afirmava que Brígida nos brindou com um livro que nos joga para nossas próprias lembranças sobre cinema. Dentre elas, a mais remota guardada por Clara foi na cidade de Rio Grande, onde passava férias, pois morava na capital. Em Porto Alegre, a censura quanto à idade era mais rígida. Em Rio Grande, assistiu, no Cine Avenida, a um filme no qual viu pela primeira uma cena com nudez: um pintor pintava a Diana. Naquele cinema, à época, mesmo sendo criança pôde ver filmes de adulto. Naquele tempo, tudo era mais simbólico e nada explícito.
No filme ” Quo Vadis” com Stephen Boyd, Clara perdeu o final do filme, pois teve dor de barriga. Muitos anos depois, assistiu àquele filme até o final.
Retornando à infância, teve o caso do pedófilo que tentou abordar a menina Clara no cine Guarani, em Porto Alegre. Tinha 10 anos de idade, e foi com uma amiguinha mais nova ao cinema. Anos 1960. O lanterninha do cinema colocou Clara e sua amiguinha num cantinho, e se encostou na primeira, maliciosamente. Saiu para ligar a máquina para rodar o filme. Clara se sentira ameaçada e, aproveitando o lapso, fugiu para o andar de baixo com a amiga. Ufa! Foi final feliz pra Clara que pode degustar o filme e a balas, igualmente, como narra Brígida em seu saboroso livro “No escurinho do cinema “. (2).
………………………………
Clara Amélia de Oliveira é engenheira, professora universitária, escritora e poeta como hobby principal.
Edna Domenica é educadora, poetisa e cronista. Autora de As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024).