13 na cabeça
Vigília marota e muitas ironias da democracia
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Mais triste do que tecer comentários a respeito de um presidiário é chutar cachorro morto. Pior é quando esses dois símbolos ocupam o mesmo corpo. É triste, mas não há nada de simbolismo na atual realidade do clã Bolsonaro. É tudo preto no branco. E vale o que foi combinado e descombinado graças à astúcia do analista de manobras familiares com intenções espúrias, algo como uma fuga espetaculosa para os braços de Donald Trump ou de Javier Milei, o presidente plano B de todo simpatizante de fotos e fatos indignos.
Embora potencialmente amadora, a ideia era boa. Melhor foi a ação das entidades de luz que, em plena madrugada, acordaram Alexandre de Moraes e, sem muitas delongas, o obrigaram a abortar as orações programadas para salvar da cadeia Jair Messias Bolsonaro, homem de saúde acima de qualquer suspeita. Com uma canetada, Xandão desarmou a armação e evitou a terceira fuga de um golpista confesso e assumido. Eduardo Bolsonaro abriu a série, sendo seguido pelo delgado deputado Alexandre Ramagem.
Do meu catre avermelhado, o que posso depreender é de simples compreensão: eita família desunida essa tal Bolsonaro. A desunião e o amadorismo do clã provocaram o fracasso do segundo golpe dos golpistas. Louco pelo poder, Eduardo Bolsonaro, o filho 03, fugiu para os Estados Unidos e, de lá, tantas fez que obrigou o xerife Xandão a decretar a prisão domiciliar do pai já condenado. Craque na arte de se imaginar mais fuderoso do que 213 milhões de brasileiros, Flávio Bolsonaro, o 01, articulou uma vigília marota e mandou o pai para a Polícia Federal. Daí para a Papuda a quilometragem é pouco maior do que as sedes das embaixadas dos Estados Unidos e da Argentina.
Desnecessário falar de 02, o Carluxo Bolsonaro, cujo sonho é tirar Santa Catarina do mapa do Brasil caso não consiga a vaga para o Senado. Apesar de não torcer pela desgraça alheia, o fundamental é o tamanho de minha alegria democrática. Ela é tão grande que, ao acordar com a notícia da prisão temporária do ex-presidente, de imediato incorporei a alma serena do compositor maranhense Zeca Baleiro. Travestido de poeta, confesso ter despertado com uma vontade danada de mandar flores para o delegado que conduziu a ex celência ao quartinho de dois por dois da sede brasiliense da Polícia Federal.
Amém, Xandão por transformar o 22 de novembro no número da sorte para o Brasil. Foi com esses dois dígitos que Jair perdeu a coroa presidencial para Luiz Inácio. Três anos depois, foi nesse mesmo dia que os brasileiros de fé saltaram da cama para assistir os primeiros sinais de fumaça branca anunciando a chegada do Messias à cela 17 do complexo recreativo da Papuda. E se for a 22? Diante dos fatos, o 17 e o 22 não têm mais importância alguma. Importante é se ater às ironias da democracia e lembrar cabalisticamente que, apesar de temporariamente, Bolsonaro foi preso no dia 22 do 11 de 25.
Se somarmos 2+2+1+1+2+5, o resultado é 13, algarismos que faz décadas apavoram o clã do mimimi sincronizado. Inaceitável foi a forma como a Globo Lixo (sempre ela) noticiou a prisão de Jair de todas as falsas doenças. No plantão quase madrugador, o roteirista da Vênus Platinada interrompeu uma longa reportagem sobre as causas do arroto bovino para anunciar a prisão do “bovino arrotador”. Fruto de memes ao longo do amaldiçoado dia 22, a prisão temporária de Bolsonaro me valeu somente pela certeza de que, em breve, virá a definitiva. Isso quer dizer que, mesmo contrário a chutar cachorro morto, tomarei dois porres de cerveja sem álcool. E viva a democracia.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras