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Amor de verdade

Epístola ao Invisível

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

A verdade é que, quando o afeto primordial se desfaz,
o mundo muda de tom.
As cores se tornam lembrança,
os sabores se tornam eco,
e até o corpo aprende a respirar diferente.

Depois disso, o amor é uma tradução imperfeita,
um gesto com vestígios de memória,
um toque que carrega o som de um nome esquecido.

Outros surgem, sim.
Presenças que acendem a pele,
olhares que decifram o desejo,
e em algum canto da alma,
um afeto tênue se instala,
como se fosse amor por alguns dias.

Mas não é o mesmo compasso.

A solitude se transforma,
mais leve, mais íntima,
porque ninguém mais possui
a chave para quebrar o que já foi reconstruído.

Você já foi cristal partido,
madrugada sem repouso,
coluna arqueada sob o peso
dos mundos que não eram seus.

Já chorou em silêncio sob águas frias,
lavando a dor com rituais solitários,
orando ao reflexo para que ele não se apagasse.

E, ainda assim,
você permanece.
Com o corpo pulsando,
os lábios ainda capazes de poesia,
e a alma ciente de que o amor
nem sempre é promessa
às vezes é incêndio,
às vezes é ruína.

E mesmo assim…
você o sentiria outra vez.

Porque, no fundo,
há uma certeza que não se dissolve:
nenhuma dor se iguala
à de ter amado com verdade.

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