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Empoderamento

Não posso ser feminina?

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Autor/Imagem:
Mércia Souza - Foto Francisco Filipino

Início uma série nova na Netflix, indicação de uma amiga que me diz que a personagem principal é uma mulher empoderada.

Aos poucos algo dentro de mim se incomoda, a mulher, chefe de Estado não gosta de roupas femininas, nada contra, também acho confortáveis as roupas masculinas.

Mas, o contexto geral, não gosta de roupas femininas, não lida bem com conselhos, toma decisões sozinhas, é agressiva ao ponto de socar o marido, que é chamado por todos de “a esposa”, ele está sempre atrás dela, evita opinar, aconselhar, embora seu cargo seja também relevante e eu observo tristemente a imagem da construção social dizendo que a mulher só está em um cargo de poder por não ter um comportamento “feminino” atribuindo ao mesmo tempo aquele personagem masculino a imagem de fraco, a posição de mulher.

Feita a minha crítica à série, que não é meu ponto principal aqui, voltei há dois anos em uma palestra, não era minha escola por uma simples questão de tema, mas devido a algumas mudanças cai na palestra.

No palco sobe uma mulher linda, negra, cabelos black power, vestido de oncinha abaixo dos joelhos, colado ao corpo, sandália de salto cor de rosa pink, com sua cintura fina e um glúteo lindíssimo a roupa trazia a tona a ideia da sensualidade que erradamente atribuímos as mulheres negras, pois quase o sempre o fazemos de forma errada.

Eu, cometi o erro de pensar:

— Por que ela está vestida assim para dar uma palestra? A roupa é linda, ela é linda, mas não é adequada para esse tipo de evento.

Enquanto a palestrante discorre sobre sua trajetória, sobre seu trabalho, demonstrando todo seu conhecimento percebo que ela tem completa noção da roupa dela, ela se vestiu de forma sensual, feminina de propósito.

A palestra se encerra, um show para mim, a vida não erra e não foi por acaso que fui parar ali.

Não fui marcada apenas pela palestra, aquela mulher me mostrou que não preciso me colocar na posição do que a sociedade ensina que é masculino para ser ouvida, reconhecida.

Volta para casa e como alguém muito curiosa vou para a internet pesquisar.

Encontro muitas mulheres com relatos sobre a necessidade de falar palavrões, vestir ternos para que fossem ouvidas em seus ambientes de trabalho e que ao entenderem isso decidiram romper com o sistema e se impor como mulher.

Entendi o que a palestrante transmitia ali e por anos a imagem e ensinamento daquela mulher me acompanhou.

Sou mulher, sou sensual, sou feminina, sou inteligente, sensata, sou um ser.

Aprendi a olhar para mim.

Dois anos se passaram e volto ao mesmo evento, me sinto em casa, histórias que me inspiram, energia que me renova, mulheres que me ensinam a trilhar meu caminho, mas sinto falta do batom vermelho, do salto rosa, do vestido de oncinha.

Todas, para minha tristeza todas as palestrantes estavam de terno, camisa, calça e calçados fechados, mesmo em um evento voltado para as mulheres.

Até entre nós precisamos parecer com o masculino? Não posso ser feminina?

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