Era dia de feira com bambas

Era mais uma quinta-feira como outra qualquer. – eu pensava. Entrei na rua Garibaldi, com uma fome de leão, rumo ao Bar da dona Maria, uma portuguesa com um rostinho de poucos amigos, mas que alguns minutos já se parecia uma parenta de longa data. Uma espécie de avó, com jeitinho de quem vai dar uma bronca a qualquer tempo, mas com um ar zeloso, perguntava com todo o carinho:

– Já comeu? Vai pedir o quê? – o sotaque lusitano era encantador. A risada da dona Maria era a coisa mais emblemática da Tijuca.

Na parede, fotos com vários nomes de peso, desde Aldir Blanc a Roberto Dinamite. Na feira semanal em meio a barracas de legumes, hortaliças e pastéis, uma roda de samba. Um samba bem tocado. Eu cheguei perto pra ver quem estava tocando naquele pagode. Pagode de samba de raiz. Eu, ao vir, quase desmaiei. Era o Moacyr Luz e o Luiz Carlos da Vila, no meio da Muda. Eram dois bambas, entre as barracas de alface, tomate, chicória, batata, agrião, legumes, verduras à vontade. Sem contar, os pastéis com caldo de cana; o coro comendo ou melhor; o samba comendo solto. Voltei pro bar da dona Maria e pedi uma água mineral.

– Dona Maria, eles estão sempre por aqui? – perguntei, ainda em estado de êxtase.

-Sim! Sim, meu filho! Essa droga de batuque é toda quinta. Pode uma coisa dessa? – perguntou-me.

Eu não sabia o que responder, pois estava ainda absorto pelo impacto que um bom samba faz.

– Dona Maria, eu vou ali! Eu volto já!

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Ronaldo Ferreira de Almeida é poeta e escritor. Autor dos livros: O amor deitou âncora- apresentação do Aldir Blanc e prefácio da Dra.Maria Celeste Machado.
Consertos Poéticos Para Dias Melhores. Comentários da Ana de Hollanda, Antonio Cicero, Marcelo Mourão e Victoria Troianowski Saramago.
Ele é colaborador do portal da Agência de Notícias das Favelas.
O poeta tem o seu nome conhecido e reconhecido dentro da literatura brasileira.