O LADO B DA LITERATURA
Frei Vicente de Salvador, o primeiro cronista do Brasil
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O retratado de hoje em O Lado B da Literatura é considerado por gente graúda como o primeiro cronista do Brasil, tendo escrito a “História da Custódia do Brasil”. Trata-se de Vicente Rodrigues Palha, que passou para posteridade como Frei Vicente de Salvador, nascido na capital baiana em 1564. Quanto ao ano de seu falecimento, há dúvida, pois não se sabe ao certo o ano exato: 1636-1639.
Frei Vicente, religioso franciscano, é pouco conhecido, pois apenas dois de seus escritos, “Crônica da Custódia do Brasil, e principalmente a “História do Brasil”, que são valiosos relatos históricos e corográficos sobre a então colônia portuguesa. Por conta desses relatos, o autor recebeu dois epítetos: “Pai da Historiografia brasileira” e “Heródoto brasileiro”.
Filho do fidalgo João Rodrigo Palha e Messias de Lemos, Frei Vicente estudou no Colégio dos Jesuítas, em Salvador. Também estudou Direito e Teologia na Universidade de Coimbra, tendo se doutorado em cânones.
O nosso retratado teve ligeira carreira na igreja, tendo ocupado os cargos de presbítero secular, cônego da Catedral de Salvador, vigário-geral e governador do bispado da Bahia. A despeito do sucesso, Frei Vicente abandonou o clero secular e, então, ingressou em uma ordem mendicante, a dos franciscanos e, por isso, em 27 de janeiro de 1599, o hábito, e passou a professar no ano seguinte, ainda em Salvador, mas foi transferido para Pernambuco em seguida.
Fluente no idioma nativo, participou da evangelização dos povos indígenas, apesar de mostrar interesse pela obra do frade Bartolomeu de las Casas, que defendia os povos originários. Chegou a ser nomeado para catequizar os silvícolas da Paraíba, mas deixou as missões em 1606 e, então, passou a lecionar filosofia no convento de Olinda. Entretanto, no fim do ano, foi escolhido para fundar o convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro e, por isso, ele e um grupo de frades chegaram ao Rio de Janeiro no ano seguinte.
Após a fundação do convento no Rio, acabou sendo requisitado para lecionar filosofia, mas, poucos meses após, foi dispensado. E, a partir daí, não há muita documentação sobre o que Frei Vicente fez até que, em 1612, é nomeado guardião do convento de Salvador. Ali, ele se dedica a doentes e idosos.
Entre 1618 e 1621 fica em Portugal, mas retorna para o Brasil, quando é nomeado guardião para Salvador. Entretanto, não aceitou tão incumbência e, então, passa a viajar.
A importância de Frei Vicente é que ele retrata uma época recente da chegada dos portugueses ao Brasil. Ele foi capaz de olhar não apenas o seu mundo, mas o dos outros povos, de modo solidário. São documentos históricos e, por isso, merecem atenção especial por parte dos historiadores, bem como para quem se interessa por fatos desse período.
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Cassiano Condé, 82, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.