E Fux, nada
Na briga entre a madame e o rufião, quem leva ferro é o passivo povo brasileiro
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Tenho ódio da política e horror aos políticos, mas como fugir deles? Impossível! Acostumados a deliberadamente confundir a epístola do padre Antônio com a pistola do padre Roque, o senador Davi Alcolumbre (PP-AP) e os atuais “donos” do Congresso reagiram ferozmente à decisão do ministro Gilmar Mendes que, por medida cautelar, restringiu à Procuradoria-Geral da União o poder de denunciar ministros da Corte ao Senado. Para uns, Gilmar legislou em causa própria e blindou os colegas do STF. Para outros, a deliberação é necessária para evitar a avalanche de pedidos de impeachment dos ministros, a maioria motivada exclusivamente por interesses político-partidários.
O ministro Alexandre de Moraes que o diga. Só ele é alvo de 50 pedidos de impeachment, seguido por Flávio Dino, com 16. Até onde se sabe, nenhum contra Luiz Fux. Coisas do compadrio. É uma discussão que promete ser longa. Pelo sim, pelo não, antes de continuar com a peleja, vale lembrar que Gilmar Mendes antecipou a decisão a todos senadores. Não falou com Alcolumbre porque o reizinho ignorou solenemente o decano do STF. A reação do senador do Amapá e de seus conveniados lembra o histórico conflito entre os antigos rufiões e as velhas donas de casas de lenocínio instaladas em zonas do baixo meretrício.
Tipo morubixabas das ocas de saliência, os mandachuvas do negócio alheio aceitavam dividir parte dos lucros com as mantenedoras dos recintos do prazer remunerado, mas não admitiam perder o controle sobre as meninas classificadas à época como as preferidas daquelas e daqueles que diziam defensores da moral, dos bons costumes, da pátria e da família. Qualquer semelhança com o comando do Congresso, a serviço do clã que perdeu o poder, não é mera coincidência. Nada contra a horizontalidade das moçoilas de então, muito menos das atuais, cuja diferença é apenas de nomenclatura.
Afinal, cada um ganha a vida como pode e ninguém tem nada com isso. As de hoje oferecem prazer via redes sociais. Não sei se me entendem, mas o mecanismo virtual é tão prazeroso como o presencial e muito mais interessante, considerando que o ato pode ser facilmente acessado por quem quiser. O melhor de tudo é que o entretenimento associativo é indolor, inodoro e insosso, não agride as ferramentas de um e de outro lado e, o mais importante, pode ser pago no PIX, ou seja, é pau a pau.
Sei que a digressão funhanhadora nada tem a ver com o relevante tema da nova briguinha entre Congresso e o Poder Judiciário. Por trás da refrega, há a notória intenção do Legislativo em limitar os poderes da Corte Suprema. Atingiram o ego de Alcolumbre. Quem sabe a seu pedido, tão logo Gilmar Mendes se insurgiu contra os desmandos do Congresso a CCJ da Câmara aprovou, de forma silenciosa, a redação final da proposta. Obviamente que não foi coincidência a movimentação corporativa dos deputados em defesa dos senadores que usurparam poderes que não são seus. As excelências acham que podem cassar ministros quando quiserem, mas se fecham em copas quando são ameaçados de cassação. E isso o que chamam de independência?
Volto à história das confusões. Chantagear ministros do STF com pedidos de impeachment é a prova contundente de que os atarantados deputados e senadores estão confundindo a grande obra do mestre Picasso com o enorme “formão” do mestre de obras. Depois as figuras carimbadas da Cosa Nostra querem fugir das críticas de que, muito mais do que bancadas, os legislativos federal, estaduais e municipais são divididos em facções. Do que as excelências têm medo? A omissão a golpes de Estado e o remendo puramente ideológico da Constituição precisam ser contidos. Se querem independência, respeitem a independência. E como terminar essa ópera bufa? Simples. O Congresso é, de longe, a casa de prostituição, o Supremo é o rufião e o povo, coitado, é aquele que, a exemplo das moças das casas de lenocínio, só leva ferro.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras