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Boa companhia

Mulheres sozinhas?

Publicado

Autor/Imagem:
Mércia Souza - Foto Francisco Filipino

Todos os dias me deparo com postagens falando sobre ficar sozinha. Sim, sozinha, mulher. Quase sempre são textos curtos ou frases e vídeos curtos. E sempre direcionado à mulher. Em seguida, vejo a enxurrada de comentários, novamente direcionados à mulher.

_ Ah, mas ninguém fica sozinho de fato, sempre tem alguém.

_ Ah, ninguém aguenta, um momento a carência bate.

No entanto, esses comentários dizem que a mulher está sozinha, que a mulher não aguenta ficar sozinha. Fico me perguntando qual é a ideia de estar sozinha?

Vejo o tempo todo mulheres em companhia dos filhos, de familiares, se divertindo com colegas de trabalho, viajando em companhias de outras mulheres, marcando aquele cafezinho, um passeio a pé na praia, um final de semana em um sítio.

Por experiência, essas mulheres não se sentem sozinhas em momento nenhum, a vida delas está repleta de bons momentos, de risadas sinceras. Em vez de perceberem isso, trazem a ideia de que uma mulher só não está sozinha se tiver com um homem ao seu lado, mesmo que esse homem não ofereça bons momentos, boa companhia, boas risadas e conversas profundas e honestas.

Que ideia fazem da solidão?

Sozinha, eu apreciava meu café delicioso em uma linda cafeteria de Cachoeiro quando ouço duas mulheres compartilharem a mesma ideia. Sorrio. Elas me incluem na conversa.

Thaís, uma delas, me convida para a mesa, papo de mulher. Aceito. A conversa segue dentro da ideia do quanto é bom ficar consigo mesma, em nossa própria companhia.

Cristina relata:

— Há aproximadamente onze meses conheci um rapaz, um homem legal, educado e, aos poucos, começo a perceber momentos de ansiedade, crises internas, fico atenta a mim e ao que preciso melhorar.

Após cinco meses, ele não tinha tempo para uma mensagem, toda sexta sumia, os encontros se tornaram escassos e só entendi no feriado de doze de outubro. Mês de setembro tinha sido complicado, eu estava sem dinheiro nenhum e, devido aos problemas, eu estava na casa de praia da minha mãe, fugindo dos maus momentos. Thaís me liga as dezesseis horas do dia onze, sexta-feira. e pergunta:

— Vai fazer o que amanhã?

Eu queria ver o Thiago, mas ele nem visualizou o bom dia de cedo, então respondo:

— Nada!

_ Vamos sair?

_ Amiga, só tenho dez reais.

Ela ri e diz:

— Eu também, mas tem gasolina na moto, vamos fazer um piquenique com o que temos em casa, ver o pôr do sol e tomar dois litrão da distribuidora.

— Combinado.

Uma programação maravilhosa.

Thiago então responde o bom dia enviado às sete e quarenta da manhã com a seguinte mensagem a seguir.

Amanhã é feriado, mas não consigo te ver, apesar de você estar aqui na praia, eu só tenho uns oitenta reais. E some.

Nem visualiza minha resposta.

Nesse exato momento percebo a importância de estar em boas companhias, mensagens respondidas com a atenção, uma boa caminhada, piquenique maravilhoso com frutas como banana, manga e maçã, só o que tínhamos em casa.

Ah, e suco de suco do limão que Thaís pediu ao vizinho e um pôr do sol maravilhoso. Voltamos caminhando para casa já ao cair da noite, compramos dois litrão e bebemos comendo cavaquinho, você sabe o que é?

_ Sei sim. Respondo,

Todas as vezes que me dizem:

— Nossa, mas é tão ruim estar sozinha.

Eu penso, como assim sozinha? E me lembro de um convite para ver o pôr do sol.

— E o Thiago? Pergunto.

Nunca mais respondi e nem atendi ele, se não consegue responder uma mensagem, jamais me proporcionaria uma tarde admirando o pôr do sol e, se eu convidasse, estaria ocupado e, se não estivesse, não perceberia a beleza de bons momentos.

Volto para casa pensando:

— Quem está só? Cristina e suas amigas com cafés deliciosos, drinks e uma roda de conversa inteligente, trilhas e viagens ou aquele jantar com os filhos ou Thiago?

……………………………..

“Apaixonada pela vida em todas as suas formas! Mãe, avó, artesã do crochê e escritora por vocação. Encontro inspiração na natureza e tranquilidade nas trilhas da montanha. Palavras e linhas são minhas ferramentas para criar e compartilhar amor.”
Autora de três livros publicados, colunista e integrante de uma comunidade literária.
Atualmente reside em Cachoeiro de Itapemirim-ES.

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