Silêncio dos hipócritas
Em 2026, tudo que o povo quer é ver no poder quem pensa nele
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Estamos em época de festas. Mesmo assim, não podemos esquecer que, associadas às recorrentes catástrofes climáticas, a violência urbana decorrente da banalização da vida humana e da escrotização da política dispensa comentários, assim como o uso da inteligência artificial. Nesse mundo de ilusões, ela deixou de ser o inimigo silencioso do povo brasileiro para ser vista em qualquer lugar do país sem a necessidade de lunetas. Sejamos eleitores homens, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, negros e pobres, passar um dia sem ser agredido física, verbal ou economicamente tornou-se um milagre.
Como na maioria dos estados, a ausência do Estado é um fato inexorável, é no milagre de um governo do povo que a sociedade vem se apegando. Idealista incorrigível, vivo imaginando o Brasil como uma daquelas caixinhas de surpresa, da qual um dia sairá um anjo ou um demônio capaz de mostrar aos apoiadores dos extremos que, muito mais difícil de ser bom, é ser justo. Quem sabe o ser de outra dimensão consiga reunir direita e esquerda para fazê-los entender que nada como uma boa conversa para se encontrar a solução de qualquer coisa, mesmo que seja a insanidade.
Diante do silêncio dos hipócritas de plantão – aqueles que riem do mundo cão e torcem para o planeta se acabar em melado -, brotam como tiriricas do brejo governantes e aspirantes a políticos sugerindo a morte, mandando matar ou deixando morrer. De vez em quando, eles promovem turnês policiais nas comunidades mais carentes com um único objetivo: matar. E pouco importa que, entre os mortos, estejam dezenas, centenas de filhos da negligência e da omissão pública. Qual a diferença deles para os integrantes de facções criminosas que vivem da desgraça alheia?
Nenhuma! Uns e outros não são tão distantes como imagina a vã filosofia. Por mais absurdo que possa parecer, em alguns ambientes eles frequentam a mesma sala. Fazem parte do quadro negro em que se transformou a política nacional, hoje um verdadeiro rolo compressor contra a resistência do povo brasileiro. Como consequência, o Brasil vai perdendo a alegria. Portanto, é chegada a hora de pararmos de cortar somente os galhos. Quando a árvore é ruim, precisamos atingir suas raízes. As eleições de 2026 estão aí para isso.
Para azar dos parasitas que infestam os palácios estaduais e o Congresso Nacional, o povo resolveu dançar conforme a música. Aliás, a dança é uma arte que consiste em tirar depressa o pé antes que o mais esperto ponha o seu em cima. E de espertos os tais palácios estão cheios. Tão cheios que até mesmo os moralistas apressados têm se valido da lei do menor esforço para ampliar suas aptidões desonestas. São o retrato fiel da máxima de que pode haver honestidade entre os desonestos. Dançar conforme a música significa adaptar-se às circunstâncias e agir de acordo com as exigências do momento.
A ideia é, em lugar de resistir a uma situação, acompanhá-la para não perder o passo. Para sorte dos dançarinos, quando o inferno voltar a ficar lotado de espertos, os bobos reinarão sobre a terra. Como céu e inferno é uma decisão exclusivamente nossa, adianto que nem preciso morrer para começar a bailar. Para não correr risco de novas agressões gratuitas, por enquanto sigo no rumo das ondas. E, sem mais palavras, elas certamente me levarão a um porto seguro em 2026. Digo sem palavras por uma razão: após viver quatro anos sob o comando de uma facção, descobri que o ovo de Colombo só ficou de pé porque era de pata. Sobre minha escolha, o que posso dizer é que quem vê cara não vê que horas são. Em 2026, tudo que o povo quer é ver no poder quem pensa nele.
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Heliodoro Quaresma, jornalista da velha guarda, aposentou a aposentadoria para virar colaborador de Notibras