É muito mimimi
Extrema direita chulezenta reclama até de comercial das Havaianas
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A extrema direita promove alguns dos piores valores possíveis, e isso é público e notório. O pacote é conhecido: homofobia, machismo, misoginia, xenofobia, racismo, nada de inovador, tudo muito previsível.
Mas, justiça seja feita: entretenimento eles entregam. E como entregam. Perdi a conta do número de vezes em que gargalhei alto assistindo a vídeos com cenas tão absurdas que beiram o surreal, protagonizadas por apoiadores do presidiário Jair Bolsonaro. Já teve oração para pneu, já teve gente invocando extraterrestres em acampamento, já teve teoria mirabolante com direito a megafone. Como não rir do Patriota do Caminhão? Aquilo não se escreve, se assiste.
E é bom registrar: nem sou eu que estou chamando esse pessoal de maluco. Durante as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, a própria Polícia Federal apontou a existência de um “grupo dos malucos”, dedicado a espalhar notícias falsas e desinformação. Ou seja, não é apelido de internet; é nomenclatura institucional.
Pois bem. No último fim de semana, tivemos mais um episódio desse delírio coletivo que atende pelo nome de extrema direita no Brasil. Dessa vez, o inimigo eleito foi de uma prosaicidade tocante: as Havaianas. Sim, o chinelo simpático que serve gerações de brasileiros desde os anos 1960, da praia ao quintal, do churrasco ao banho de mangueira.
Tudo começou quando viram um comercial em que a talentosa Fernanda Torres diz que, em vez de começar o ano com o pé direito, era melhor começar com os dois pés na porta. Pronto. Bastou isso para um grupo de iluminados enxergar uma mensagem subliminar de ataque à extrema direita. Um chinelo virou manifesto. Um slogan virou conspiração.
É fascinante. Onde o brasileiro médio vê humor e criatividade publicitária, eles veem códigos secretos, complôs globais e perseguição ideológica, tudo mediado por um par de Havaianas. Se Freud estivesse vivo, largava o divã e pedia ingresso para esse espetáculo.
No fim das contas, é isso: a extrema direita pode até ser tóxica, retrógrada e perigosa, mas nunca deixa o público sem conteúdo. É um reality show involuntário, sem roteiro, com temporadas intermináveis. E confesso, rindo de nervoso: às vezes, a única defesa possível é gargalhar.