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Maturidade silenciosa

Nem Toda Mudança é Perda

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

Apenas porque as coisas mudam, não significa que elas pioram. Nós fomos educadas a associar mudança à ruptura, à perda, ao fracasso do que não permaneceu. Como se o valor das coisas estivesse diretamente ligado à sua duração, e não ao que nos ofereceram enquanto existiram. Crescemos aprendendo a temer o movimento, quando, na verdade, é ele que nos mantém vivas.

Há mudanças que doem, sim. Porque nos arrancam de lugares conhecidos, de versões de nós mesmas que já não servem mais, de relações que um dia fizeram sentido. Mas dor não é sinônimo de erro. Às vezes, é apenas o sinal de que algo está se reorganizando. O fim de uma forma não é, necessariamente, o fim do conteúdo.

Nós confundimos estabilidade com segurança. E, no entanto, muitas das coisas que nos adoeceram eram estáveis demais. Permanecer não nos salvou. Mudar foi o que abriu espaço para respirar. A mudança, quando acontece, não vem para destruir tudo ela vem para realocar. O que fica, fica por escolha. O que vai, vai porque já cumpriu seu papel.

Existe uma maturidade silenciosa em aceitar isso. Entender que nem tudo que se transforma está nos traindo. Que algumas mudanças são, na verdade, convites para versões mais honestas de nós. Nós não somos as mesmas porque não precisamos ser. Crescer é, muitas vezes, aprender a não insistir em caber onde já não há espaço.

A literatura já nos ensinou ainda que não tenhamos percebido à primeira leitura que o tempo é personagem central de qualquer história. Ele não é vilão nem herói; é contexto. E contextos mudam. O que nos parecia essencial em um capítulo pode se tornar secundário no seguinte. Isso não invalida o passado, apenas confirma o percurso.

Que isso fique como aprendizado coletivo:

Nem toda mudança nos empobrece. Algumas nos libertam, outras nos refinam, outras apenas nos deslocam para onde finalmente podemos ser inteiras. A vida continua quando entendemos que mudar não é perder é, muitas vezes, a forma mais honesta de permanecer fiel a quem nos tornamos.

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