Lá vem 2026
Odete não morreu e o Brasil seguiu de chinelo
Publicado
em
Em 2025, o Brasil até discutiu política, mas não viveu dela. A polarização seguiu presente, insistente, às vezes cansativa, mas não foi isso que mais capturou a atenção do brasileiro ao longo do ano. O interesse real pareceu mais espalhado, mais pragmático e, sobretudo, mais ligado ao que mexe com a vida concreta.
Os sinais disso apareceram nos assuntos que despertaram curiosidade e conversa. Futebol voltou a ocupar espaço central. Mundial de Clubes, confrontos internacionais, times como PSG e Chelsea entraram naturalmente no radar. Não por deslumbramento europeu, mas porque futebol continua sendo uma língua comum, dessas que atravessam bolhas sem pedir autorização.
Nesse ambiente, Flamengo também ocupou seu espaço. Títulos importantes ao longo do ano mobilizaram uma torcida numerosa, espalhada por todo o país, e ajudaram a explicar por que o futebol segue sendo um dos poucos temas capazes de reunir atenção nacional sem grandes disputas morais. Foi celebração, conversa de bar, provocação entre amigos. Nada além do futebol fazendo o que sempre fez.
Também chamou atenção o interesse por pessoas, mais do que por conceitos. Nomes próprios mobilizaram mais curiosidade do que grandes abstrações. Donald Trump seguiu sendo acompanhado com atenção. O tenista João Fonseca apareceu como novidade. O brasileiro quis saber quem são, o que fazem, para onde vão. Menos sistema, mais personagem.
Casos jurídicos também estiveram em evidência. Não pelo debate técnico, mas pelo enredo. Disputas, decisões, consequências. O interesse esteve menos no juridiquês e mais na história. Quem ganhou, quem perdeu, o que muda a partir dali. Justiça como narrativa, não como tratado.
Conflitos geopolíticos e grandes acontecimentos internacionais continuaram no horizonte. Não necessariamente por engajamento ideológico, mas por impacto. O mundo anda instável demais para ser ignorado, e o brasileiro acompanha tentando entender até onde essa instabilidade bate à porta de casa.
No meio disso tudo, surgiram as polêmicas menores. Comerciais, campanhas de marketing, frases fora de tom. Rendiam conversa, meme, alguma irritação pontual. Mas nada virou centro absoluto do país. Comentava-se, discordava-se e a vida seguia.
Talvez isso diga bastante sobre 2025. O brasileiro pareceu interessado no que entretém, no que informa e, principalmente, no que afeta a rotina. Houve curiosidade, houve debate, houve barulho. Mas pouco apetite para transformar cada assunto em drama definitivo.
No fim das contas, 2025 teve final de novela, sim. Só não teve assassinato. Não mataram Odete Roitman. Está vivinha. E, se brincar, anda por aí batendo perna, resolvendo a própria vida como todo mundo, provavelmente calçando uma Havaianas.
O Brasil seguiu assim: atento ao que importa, curioso com o que entretém e pragmático o suficiente para não parar tudo por causa de mais um capítulo. A vida continuou. Com menos exagero, mais rotina. E isso, convenhamos, diz muito sobre o ano.
……….
Nota ao leitor – Passado o Natal, desejo um 2026 com saúde, serenidade e bons encontros. Entro agora em um curto recesso e volto a publicar meus artigos a partir de janeiro.