Teatro
A DANÇA
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O teatro está armado.
Um, dois, três passos. O corpo do preto forte avança solitário. Agora é com ele. Os braços buscam movimento e o corpo acompanha a dança. Gira prum lado, gira pra outro. Retrocede, avança, recua e baila. O público reage, se identifica e parece ir com ele.
Os braços se juntam simultâneos, comunicam. Pintam no ar acrobacias de esgrimistas.
O corpo suado, esculpido, acha outro. Agora dançam juntos num bolero trágico. Abraçam-se. Medem distância, ajustam e regulam cada movimento. Luzes intensas, fôlego nervoso. Enquanto um parece correr, o outro dança.
Estão ali. Exaltados, frágeis, lentos e velozes, desamparados.
Parecem lutar, mas não: dançam.
Um, dois; um, dois. Ouvem-se urros de glória, aflição e também de agonia; um direto preciso, uma direita aberta, um soco na ponta do queixo e o barulho seco da queda.
Falta total de ar.
O protetor cai junto, fora da boca. Desmaiado, beijão a lona com sangue.
A toalha branca jogada de um dos cantos, interrompe a contagem do juiz.
Fim da dança bela e macabra.
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Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador e nas horas em que não escreve, prática dança como se lutasse boxe. Vive na vila de pescadores da Guarda do Embaú SC.