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Teatro

A DANÇA

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta - Texto e Foto

O teatro está armado.

Um, dois, três passos. O corpo do preto forte avança solitário. Agora é com ele. Os braços buscam movimento e o corpo acompanha a dança. Gira prum lado, gira pra outro. Retrocede, avança, recua e baila. O público reage, se identifica e parece ir com ele.

Os braços se juntam simultâneos, comunicam. Pintam no ar acrobacias de esgrimistas.

O corpo suado, esculpido, acha outro. Agora dançam juntos num bolero trágico. Abraçam-se. Medem distância, ajustam e regulam cada movimento. Luzes intensas, fôlego nervoso. Enquanto um parece correr, o outro dança.

Estão ali. Exaltados, frágeis, lentos e velozes, desamparados.

Parecem lutar, mas não: dançam.

Um, dois; um, dois. Ouvem-se urros de glória, aflição e também de agonia; um direto preciso, uma direita aberta, um soco na ponta do queixo e o barulho seco da queda.

Falta total de ar.

O protetor cai junto, fora da boca. Desmaiado, beijão a lona com sangue.

A toalha branca jogada de um dos cantos, interrompe a contagem do juiz.

Fim da dança bela e macabra.

…………………

Gilberto Motta é escritor, jornalista e professor/pesquisador e nas horas em que não escreve, prática dança como se lutasse boxe. Vive na vila de pescadores da Guarda do Embaú SC.

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