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Xô, mau agouro

A história da vizinha, o rato e o umbigo

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Igor Matheus Santiago

– Caiu?

– Caiu.

– Quando?

– Ontem.

– Cadê?

– Guardei num saquinho.

– Vai fazer o quê?

– Ainda não decidi.

– Cuidado!

– Cuidado com o quê?

– Pro rato não comer.

– Que rato? Comer o quê?

– O umbigo.

– Por quê?

– Se o rato comer, vira ladrão.

– Quem?

– Quem o quê?

– Quem vira ladrão? O rato ou a criança?

– A criança.

– Besteira!

A vizinha bebericou um pouco do chá de camomila, enquanto a recém-parida a encarava. Era óbvio o seu incômodo com aquela história de rato devorador de umbigos. Onde já se viu tamanho disparate? Tolice de gente que não tem o que fazer. Que vá levar mau agouro para bem longe!

Terminado o chá, a vizinha disse que precisava ir, pois ainda passaria na mercearia do seu Oliva. Coisa pouca, um quilo de arroz e algumas cebolas. As duas se despediram com promessas de novos encontros. Breves, por assim dizer.

Mal fechou a porta, a mulher soltou um palavrão. Na verdade, foram dois ou três, mas que não vale a pena mencioná-los. Coisas de puerpério. Entretanto, calejada que era, bem sabia que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

A mulher foi direto para o quarto. Catou o saquinho com o umbigo e tratou logo de trancafiá-lo no cofre. Com o filho no colo, lançou um olhar de onça brava para a frestra debaixo da porta.

– Agora quero ver algum rato pegar o umbigo do meu menino!

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