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E agora, capitalismo?

A insegurança alimentar aflige mais de 47 milhões de estadunidenses

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@donirene - Foto de Arquivo

Nos últimos dias, me deparei com um dado que não saiu mais da minha cabeça: nos Estados Unidos, a nação mais rica do planeta, mais de 47 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar. Quarenta e sete milhões. É quase a população inteira da Espanha vivendo sem saber se terão o que comer no dia seguinte. Tudo isso no país que gosta de se apresentar como o grande modelo de sucesso econômico.

No Brasil, somos 54 milhões de pessoas nessa mesma condição dramática. A diferença é que somos um país em desenvolvimento, com desigualdades históricas, desafios estruturais e recursos infinitamente menores que os dos Estados Unidos. A comparação escancara um ponto que muita gente evita encarar: se até a maior economia do mundo convive com números tão obscenos de fome, alguma coisa está muito errada no discurso de que “o capitalismo distribui riqueza”.

Não distribui. Nunca distribuiu.

O que o capitalismo distribui em abundância é desigualdade. Ele concentra renda no topo, transforma direitos básicos em mercadorias e naturaliza que milhões de pessoas fiquem à margem enquanto meia dúzia acumula fortunas que nenhum ser humano conseguiria gastar em uma vida. Quando vemos tanta gente passando fome nos EUA, não é sinal de que o capitalismo falhou. Pelo contrário: é sinal de que ele funciona exatamente como foi desenhado: produzir riqueza para poucos e precariedade para muitos.

É por isso que me incomoda quando alguém usa os Estados Unidos como exemplo de “prosperidade” sem olhar para o outro lado da moeda. Prosperidade para quem? Para quantos? Se o modelo que se vende como ideal convive com 47 milhões de pessoas sem comida, talvez seja hora de admitir que o problema não está nas exceções, mas na estrutura.

No fundo, esses números gigantescos não são apenas estatísticas. São vidas. São pessoas que trabalham, cuidam de famílias, adoecem, envelhecem e ainda assim passam fome no coração da maior economia do mundo. Isso, para mim, diz muito sobre o sistema que escolhemos chamar de sucesso.

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