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Ontem é hoje

A magia do alquimista e a fonte da juventude que é a IA

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José Seabra - Foto Francisco Filipino

Há lembranças que o tempo não apaga; apenas amarela, como aquelas fotografias que resistem nas gavetas da memória. Uma delas me conduz de volta ao sertão pernambucano, quando, aos 25 ou 26 anos, tive a ventura de conhecer Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré. Foi numa das primeiras Missas do Vaqueiro, tributo que Gonzagão prestava ao primo Jacó, tombado sob as sombras dos latifúndios.

Eu ainda trazia no rosto o frescor da juventude e nas mãos a inexperiência de quem mal saíra do celeiro que fabrica repórteres. E, de repente, estava ali, como quem chega de penetra a uma festa de anjos, diante de dois homens que já eram eternidade, onde um transformava a dor em música, e o outro convertia a seca em poesia.

Trago essa lembrança agora para falar de um tema improvável: a tal Inteligência Artificial, de que me falava  ontem a colega Irene Martínez, a famosa Dona Irene, que assina com todo o glamour a coluna logo acima. Pois foi ela (a IA), com sua magia de circuitos saídos do tacho de alquimia de Francisco Filipino, que retirou de uma foto esmaecida aquele rapazote intrometido, colocando-o, ombro a ombro, ao lado de dois respeitados senhores. A tecnologia, caprichosa, avançou minha idade como quem apressa um pôr do sol.

E aqui estou eu, contemporâneo de Gonzaga e Patativa, graças a uma máquina que imita lembranças. Só lamento que, apesar de tanto engenho, não me tenha dado o sopro divino que fez nascer A Triste Partida e Asa Branca. Porque essa, sim, é a verdadeira inteligência – a de cantar o povo e a vida com a força da eternidade.

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