Escrita autoral
A Sina dos Saltimbancos
Publicado
em
Minha saudosa tia dizia que “quem sai na chuva é pra se molhar”. Mas confesso que uso guarda-chuva.
Quando escrevemos, nos misturamos a outros universos momentaneamente. Finda a criação, voltamos para nossas casas. E, se dela saímos, nos confrontamos com o mundo externo que pode ser chamado precipitadamente de realidade.
Vida de escritora é exercício de entrar no casulo e dele sair para dar à luz algo sombrio ou solar, mas sempre a iluminar idiossincrasias leitoras. Explico: eu escrevo o que posso, e você lê conforme se permite. Entre nós há um ruído que é o mundo que acontece fora dos nossos casulos.
Nesse mundo externo, pleno de narrativas controversas, há leis nas quais, por exemplo, palavrões são considerados infrações. Na prática, a turma do “sabe com quem você está falando” diz o que quer, como quer. E os saltimbancos como ficam? Os mais espertos, os sindicalistas e os professores universitários usam pseudônimos.
Vivemos em tempos nos quais as pautas de costumes são usadas para angariar votos. Corremos o risco de que nossos textos possam vir a ser usados como “boi de piranhas”?
Ao velho ditado: “seguro morreu de velho”, acrescento: “Meu nome não é Jocasta”. Num país onde quase tudo é invencionice da Extrema Direita, e em que chacina é culpa das mães dos ditos infratores, prefiro me expressar metaforicamente:
O confronto entre os poderes institucionais exala um odor bucólico: o mesmo que sinto ao pisar na relva carimbada com a criação pós digestiva do gado, no pasto…