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Meninos, eu vi

A tragédia passou; cabe aos governantes evitarem novos estragos

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@donairene13 - Foto Acervo Pessoal

Eu estava lá. Vivi de perto a grande enchente de 2024 no Rio Grande do Sul, e é difícil colocar em palavras tudo o que senti. Foi um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Ver meu local de trabalho tomado pela água, a escola da minha filha completamente alagada… aquilo me dilacerou por dentro. Mesmo sem ter tido nenhuma perda material, a dor era real, era presente. A dor estava nos rostos das pessoas que cruzavam meu caminho: amigos, vizinhos, conhecidos — gente que eu amo, gente que batalhou por anos para construir o pouco ou o muito que tinham, e que em questão de horas perdeu tudo.

Lembro do barulho constante dos helicópteros sobrevoando a cidade. Aquilo virou parte do nosso cotidiano — o som das hélices misturado ao das sirenes. E mesmo agora, quase um ano depois, ainda escuto esse som dentro de mim. Como se ele tivesse se alojado na minha memória, ecoando em momentos inesperados. Nem parece que já faz tanto tempo. O corpo seguiu, a vida seguiu, mas tem coisas que ficam.

A cidade parecia um cenário de guerra. Era como se a natureza gritasse, num volume ensurdecedor, sobre tudo que vem sendo ignorado há tempo demais. Cada sirene que ecoava era um aperto no peito. Cada notícia de resgate, uma esperança frágil. A solidariedade entre as pessoas foi o que nos sustentou. Mas a verdade é que ninguém deveria passar por isso.

Eu só espero — e espero com força — que os governantes aprendam com esse desastre. Que entendam que eventos climáticos extremos não são mais exceção, são parte do nosso presente e do nosso futuro. Que planejem, que previnam, que tratem essa pauta como prioridade. Porque nós, que estivemos lá, sabemos que o sofrimento causado por uma tragédia climática vai muito além do que a água leva — ele se instala na alma e demora muito a secar.

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