Estranho e revelador
A Versão Que Nunca Deveríamos Reduzir
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Há algo profundamente triste e silencioso no momento em que percebemos que mudamos perto de alguém. Não porque evoluímos, mas porque nos encolhemos. É como se, diante de certas pessoas, nós passássemos a medir palavras, podar gestos, esconder pensamentos, calibrar emoções. E tudo isso para caber em um espaço que nunca foi feito para o nosso tamanho real.
É estranho quando percebemos essa diferença. Estranho… e revelador.
Porque ninguém deveria nos exigir uma versão reduzida, mais fácil, mais leve, mais suportável. Ninguém deveria nos fazer sentir que somos demais, intensos demais, profundos demais, verdadeiros demais. Quando a companhia de alguém nos obriga a diminuir a nossa própria identidade, nós não estamos vivendo um encontro, estamos vivendo um disfarce.
E disfarces cansam. Eles roubam nossa voz, nossas cores, nossas possibilidades.
O amor nas suas múltiplas formas exige coragem. E uma delas é entender que a pessoa que caminha ao nosso lado precisa querer estar conosco, não com o molde editado que criamos para ser aceita. O carinho que precisa de silenciamento não é carinho. A presença que pede autocensura não é presença é vigilância emocional.
Nós não fomos feitos para sermos versões simplificadas. Fomos feitos para sermos inteiros.
E ser inteiro significa rir alto quando der vontade, pensar fundo quando necessário, sentir intensamente sem pedir licença para existir. Significa ocupar o espaço que é nosso por direito, mesmo que isso incomode quem prefere afetos silenciosos e emoções embaladas a vácuo.
A verdade é que nenhuma relação de amizade, de amor, de convivência sobrevive quando a autenticidade morre. Nenhum vínculo floresce quando o preço é calar o que somos.
Nós merecemos, sim, pessoas que desejem ficar ao nosso lado sem que precisemos negociar a própria identidade. Pessoas que olhem para a nossa intensidade e digam: “é assim que eu quero caminhar”. Pessoas que não disputem com as nossas sombras, mas caminhem com a nossa luz.
E no fim, quando olhamos para tudo o que vivemos, aprendemos uma lição que liberta: a pessoa certa não quer uma versão mais fácil de nós, quer o nosso inteiro, com todas as camadas, todas as histórias, todas as verdades.
Qualquer coisa abaixo disso… é só redução do que poderíamos ser