Tente outra vez
A Virada Que Chega Depois do Cansaço
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Há histórias que atravessam séculos porque revelam verdades que nunca envelhecem. A de Pedro, por exemplo, parece simples: ele pensou em desistir à noite, e pela manhã teve a maior pesca da sua vida. Mas, quando olhamos com mais cuidado, percebemos que essa narrativa é menos sobre peixes e mais sobre o limite humano aquele ponto em que já não enxergamos saída, mas ainda assim somos chamados a tentar uma última vez.
No plural, reconhecemos essa experiência. Quantas noites atravessamos exaustos, acreditando que nada mudaria? Quantas vezes dissemos a nós mesmos que não havia mais força, mais esperança, mais possibilidades? Quantas madrugadas passamos com a sensação de que estávamos recolhendo redes vazias na vida, nos relacionamentos, na família, na saúde emocional, nos sonhos que não vingaram? E, ainda assim, amanheceu.
É sempre assim: o milagre não está na pesca, mas na insistência de jogar a rede de novo, mesmo quando o mundo inteiro parece dizer que não adianta. O cansaço nos ensina a duvidar, a temer, a recuar. A fé, seja ela espiritual, emocional ou racional, nos ensina a tentar mais uma vez.
A verdade é que todos nós já tivemos noites como a de Pedro. Noites em que pensamos em desistir, em que o peso emocional parecia maior do que nossas próprias mãos, em que acreditamos que éramos nós o problema, quando na verdade era apenas o tempo das coisas que ainda não havia chegado.
E que ironia bonita: é sempre depois da noite mais pesada que a vida resolve surpreender. Quando estamos no limite, quando o corpo pede descanso, quando a alma pede silêncio, quando a mente pede trégua é ali que o amanhecer começa a se mover por nós.
A maior pesca não é o resultado. É a prova de que não desistimos. E é isso que carregamos juntos: a consciência de que, muitas vezes, o que muda a nossa história não é força, não é talento, não é clareza, é persistência humilde. É continuar, mesmo quebrados. É caminhar, mesmo feridos. É jogar a rede, mesmo sem garantia nenhuma.
A história de Pedro nos lembra de algo que tentamos esquecer quando estamos sofrendo: o desespero da noite não cancela o milagre do dia.
E assim seguimos. Cansados, às vezes. Frágeis, quase sempre. Mas dispostos a acreditar que, depois da noite de desistência, pode estar chegando o momento mais abundante das nossas vidas.