Aquele 13 de Maio
Abolição, ou só mudou o nome da escravatura?
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Dizem que no 13 de maio de 1888 o Brasil ficou mais bonito. Assinaram um papel, a Princesa balançou a pena com ternura, e puf! acabou a escravidão. Isso, claro, se você estiver lendo um livro de História que nunca viu a cor de um morador de favela.
A verdade é que a tal abolição só mudou o nome das correntes. Antes eram de ferro, visíveis, pesadas e declaradas. Hoje, são de carne, concreto e silêncio. Chama-se salário mínimo. Chama-se CEP. Chama-se “suspeito em atitude suspeita”. Chama-se escola pública sem teto. Chama-se metrô lotado para o subúrbio às 6 da manhã. Chama-se corpo preto sendo confundido com ameaça antes de ser reconhecido como humano.
O 13 de maio é um daqueles dias em que a gente precisa desassinar a história e reescrevê-la com a mão suada de quem sobrevive. Porque não houve libertação houve abandono. O Estado soltou as correntes, mas não estendeu a mão. Libertou sem reparar, sem incluir, sem se responsabilizar. Como quem diz “vá”, mas sem dizer “pra onde”.
E fomos. E ainda vamos. A passos duros, com a memória dos troncos nas costas e o som do tambor nos corações. Porque sim, resistir também é dançar. Também é amar, rir alto, fazer meme, criar moda, ocupar universidades, refazer a linguagem, recontar os afetos, escrever poesia enquanto esperam que sangremos em silêncio.
O Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo não é uma nota de rodapé na história: é a correção da mentira institucionalizada. Porque até hoje, o racismo é estrutural não é desvio, é regra. Ele está nos muros invisíveis que separam bairros, nos olhares desconfiados nos elevadores, na ausência de nomes pretos nas prateleiras das livrarias, nas filas de emprego que começam e terminam sem um “boa sorte” para quem tem a pele marcada por heranças forçadas.
A “abolição” foi o início de outra escravidão: a de ter que provar todos os dias que merecemos o que nos foi roubado. Liberdade virou meta, não presente.
13 de maio, não celebro. Reivindico. Retorno. Reescrevo. Porque ainda somos nós os de pele, história e voz preta que puxamos este país nas costas, com ou sem assinatura da princesa.