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Ada e Otto dão verdadeiro show em Noites de Alface

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição

As cenas se passam numa cidade provinciana.  Otto (Everaldo Pontes) e Ada (Marieta Severo) formam um casal de idosos. Começa com Ada sentando no degrau da varanda .m comentando cansaço. Otto ajuda a companheira a levantar-se e entram juntos na casa. Noites de Alface, longa de Zeca Ferreira, começa assim. O filme está em cartaz nos cinemas. É inspirado no romance de mesmo nome de Vanessa Barbara.

O ambiente é claro, doméstico, suburbano. Lembra algo passado, como anos 1950, em algum bairro afastado de São Paulo, ou na Zona Norte do Rio, ou em qualquer localidade. Bárbara sempre dialoga com seu bairro, o Mandaqui, extremo norte de São Paulo. Mas o filme foi realizado em Paquetá, no Rio.

Assim como no livro, a história transcrita em filme trabalha com poucos personagens e elementos ambientais mínimos. Há o casal e sua casa, mais alguns vizinhos, a rua defronte, dois carteiros. E, sobretudo, o cotidiano dos dois velhos, carregado de uma certa ambiguidade. Ada é toda atividade. Ela é quem faz os serviços domésticos, sai para a rua e traz de volta para casa as novidades. Ele se entretém com romances policiais e de mistério.

Aqui temos um dos trunfos do filme, na verdade o seu principal: um ator e uma atriz não apenas muito bons, mas ambos fora de série. Everaldo Pontes e Marieta Severo compõem mais que uma bela dupla, com atuações discretas porém marcantes. São extraordinários. Intensos, porém sutis o suficiente para sustentar a ambiguidade de fundo da trama.

Marieta é envolvente com sua caracterização aberta, porém um tanto misteriosa, como convém à personagem. Igualmente convincente é Everaldo, em consonância com seu personagem Otto, que parece sempre estar um pouco por fora do que se passa. Nem tanto porque seja “desligado”, mas por seus excessos de imaginação. Assim como Quixote delira por causa dos romances de cavalaria, Otto desloca-se do eixo em razão dos livros e programas policiais.

Tudo isso é feito de maneira delicada e sutil. A ideia parece mesmo ser a de montar um microcosmo social, embora não representativo da sociedade em seu todo. Retrata algo um pouco fora do tempo e lugar. À parte. Não que essa fatia social seja idealizada. Longe disso. Mas encontra-se nela essa antiga sociabilidade suburbana, em que os vizinhos conversam, se visitam, trocam pequenos mimos, e se cotizam para promover a quermesse da igreja. Algo que talvez se conserve ainda em determinados bairros das grandes cidades, mas que, com o avanço da especulação imobiliária, desaparecem pouco a pouco. Há algo nostálgico em Noites de Alface. Mas convém não se iludir muito.

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