Ficou o legado
Adeus, menina que cantava e fazia o Brasil cantar junto o som da sua alegria
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Soube ontem à noite da morte da cantora Preta Gil. E, desde então, fiquei com o coração apertado. Ela estava, nos Estados Unidos, tratando um câncer, e a notícia do seu falecimento me pegou desprevenida, mesmo sabendo que sua saúde inspirava cuidados há algum tempo.
Sinto muitíssimo. Por ela, por sua família, por seus amigos, por todos que a amavam, e eram muitos. Preta era dessas presenças generosas, que vibravam alto, que faziam barulho, que celebravam a vida com todas as cores e sons possíveis. Era alegria, era entrega, era afeto. E é profundamente triste pensar que alguém tão cheia de vida tenha partido ainda tão jovem, contando apenas 50 anos.
Quero, com todo respeito, expressar meus sentimentos à sua família, aos amigos próximos, aos fãs e a quem, como eu, mesmo sem conhecê-la pessoalmente, nutria uma admiração silenciosa por sua trajetória, sua força, sua franqueza, sua humanidade.
Mas tem algo que eu preciso dizer, com cuidado, mas com firmeza. Sempre me incomodou um pouco essa expressão que às vezes se usa nessas horas: “ela morreu lutando contra o câncer”. Sei que é bem-intencionada, mas me soa injusta. Como se, ao morrer, ela tivesse perdido. Como se a morte fosse uma derrota. E não é.
Quem tem câncer não é um super-herói. Não é alguém com poderes especiais. É gente. Gente que sente medo, que tem dias bons e ruins, que enfrenta exames, incertezas, efeitos colaterais e, mesmo assim, tenta viver. Viver. Porque viver é o que nos resta diante do absurdo da finitude.
Preta Gil não morreu lutando. Ela morreu vivendo. Intensamente. Seguindo em frente, compartilhando sua dor, sua esperança, sua música, sua alegria. Mostrando vulnerabilidade e força. Cantando, dançando, amando e resistindo, como sempre fez.
Ela não perdeu a batalha contra o câncer. A morte não a derrotou. Porque ninguém que vive com tanta entrega pode ser vencido. Ela se despediu do mundo do único jeito que sabia: sendo inteira. E é isso que fica.
Que sua passagem seja leve. E que sua vida continue ecoando em cada lembrança bonita, em cada música cantada em coro, em cada riso espontâneo que ela provocou. Porque, no fim, é isso que permanece: a vida que a gente teve coragem de viver.