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Que País é esse? Quadro de Renato Russo no Senado é como se no lixo estivesse

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Otávio Medeiros Jr

Em Brasília são pontualmente 18 horas. Se tudo correu conforme o figurino, descerra-se neste momento lá para as bandas da Praça dos Três Poderes, o manto que cobre a imagem de Renato Russo. Lá fora, na rua, a pergunta que não quer calar. Afinal, que País é esse?

Cria-se a polêmica, Renato Russo brada do túmulo, e o povo, em coro, repete. Que País é esse, onde a sujeira (política) impera por todo lado do Senado, onde não se respeita a Constituição? Uma sujeira diferente daquela que se acumula nas favelas, onde, a despeito de tudo, acredita-se (como utopia) no futuro da Nação.

Na Esplanada dos Ministérios, coberta por nuvens negras, os fãs de Renato Russo formam um imenso coral. Não perdoam uma equivocada homenagem, ao se doar à Biblioteca do Senado a obra da artista plástica Valéria Díaz. Não aceitam que o ídolo seja colocado ao lado daquilo que ele sempre repudiou.

Melhor seria, sugerem os fãs, que o quadro fosse jogado numa lata de lixo. Daria no mesmo. E Renato, irritado – coisa rara quando em vida – volta a esmurrar e a bradar lá do sepulcro. Logo ele, que acreditava poder descansar quando a morte lhe chegasse.

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Fãs clubes – Valéria, pernambucana de berço e brasiliense por adoção, pode mesmo ter pintado o quadro de Renato Russo com mãos mágicas. Não se questiona o valor e a beleza da obra. O que está em jogo, diz Mary Coimbra, presidente de um dos milhares de fãs clubes que homenageiam o cérebro da Legião Urbana, é o destino final da pintura. “Biblioteca do Senado? Ah, manera”, desabafa.

Pernambucana de berço e brasiliense por adoção, Valéria Díaz andou dando um rolé pela Europa. “E lá, no Primeiro Mundo – acusa Plínio Batista, presidente de outro fã clube –, ela misturou as bolas, deixou tico e teco tontos”, pontua. Ou será que não ouviu piadas de que o Brasil “vai ficar rico. Vamos faturar um milhão quando vendermos todas as almas dos nossos índios num leilão”?, indaga.

A artista pernambucana-brasiliense-europeia podia mesmo arranjar outro espaço para colocar sua obra. Mesmo porque, Renato Russo não precisa desse tipo de homenagem. Ele vive na memória de todos. É aclamado como ídolo, mito. É uma lenda. E sua obra não se resume a um quadro por mais bem traçadas que sejam as linhas e a distribuição das cores. Porque, no fundo, o quadro do Senado é negro.

As 18 badaladas ouvidas no descerramento do manto não silenciaram a turba do lado de fora. O grito ecoado na Esplanada foi verdadeiro. Só não foi palpável, porque nele não se toca – mas toca-se a música de Renato Russo. O grito dos fãs foi realista, ao contrário da mentira de Dado Villa-Lobos. “A música (do antes querido parceiro Renato Russo) foi superada. Virou um conto da carochinha”.

Ora, Dado. Junte-se a Valéria Díaz e responda do fundo do coração. Afinal, que País é esse?

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