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Agnelo deixa bomba para Rollemberg que pode ‘matar’ a saúde

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Estamos à beira de um colapso administrativo na saúde do Distrito Federal. Não é pessimismo. São as consequências de uma gestão ineficiente durantes anos a fio. O mês de janeiro que se aproxima promete ver uma crise sem precedentes na área. E especialistas no assunto, reunidos em conversa informal durante almoço na segunda-feira 1, encaminharam suas conclusões nesse sentido.

Em volta da mesa em que foi servido um filé a parmegiana, amigos liderados pelo médico Paulo Feitosa, foram unânimes em concordar que, sem dinheiro em caixa, o governador Agnelo Queiroz (PT) e o ex-secretário de Saúde Rafael Barbosa entregarão ao próximo governante uma bomba-relógio. E o mês inicial de 2015 será o momento para o esquadrão antibomba do governador eleito Rodrigo Rollemberg trabalhar.

Falta de gestão pode ser o motivo da catástrofe que se abateu sobre a área da saúde pública na capital da República. O Distrito Federal dispôs, para o exercício que se finda, de de 6 bilhões 400 milhões de reais para aplicar no setor. Desse valor, R$ 3,1 bilhões vieram do governo federal. O cofre administrado por Rafael Barbosa é o único, em todo o País, que recebe um recurso dessa grandeza.

Os problemas que Agnelo não resolveu foram vários. E todos cruciais. O governador que vai embora deixando para trás o de pior ocupante que já passou pelo Palácio do Buriti, não melhorou a atenção básica em saúde, por exemplo. A cobertura do programa Saúde da Família não chegou aos 30%. E, pior ainda: além de baixa, é desqualificada. Apenas 3% dos médicos lotados no programa têm a necessária especialização de clínico geral.

Esses profissionais são multiusos por compartilharem entendimento de pediatria, clínica, ginecologia e cirurgia. E, principalmente, por entenderem de política de saúde. Quando o assunto é a atenção básica, a ação desses médicos representa um vantajoso impacto nos hospitais públicos, por evitar a superlotação. Mas do contrário, se o profissional não tem esse currículo, a tendência é que só encaminhe os doentes que muitas vezes ficam ao ‘Deus dará’.

Esse e outros problemas foram diagnosticados pela coordenação de saúde da equipe do governador eleito Rodrigo Rollemberg. Já foram elaborados receituários para amenizar a doença crônica da saúde no Distrito Federal. Mas a sociedade que não se engane, que não espere por milagres. Melhorar essa área não será feita com o uso de uma varinha de condão. O povo precisa saber disso. E colocar isso na cabeça do brasiliense será mais um desafio do governador Rodrigo Rollemberg. Milagres não existem. Muito menos para serem realizados em 100 dias, como foi prometido por quem sai, sem que nada tenha sido cumprido.

Quem elaborou o programa de saúde de Rodrigo Rollemberg avalia que o setor tem ainda uma outra enfermidade tão grave quanto filas, falta de leitos, de UTIs, de medicamentos: a ausência de recursos humanos, principalmente nas áreas críticas. É o que consideram uma vulnerabilidade de Estado. Um quadro que se agrava, uma vez que o GDF abre um concurso, mas não aparece ninguém. O profissional não quer essas especialidades mais complexas.

A solução deve vir por meio de gratificações por desempenho e atuação em área de risco. O médico receberia mais, na eventualidade de alcançar uma meta de cirurgias previamente estabelecida, por exemplo, além de trabalhar em campos da medicina mais nevrálgicos, como a neonatologia, que justificaria mais uma gratificação.

Muito da superlotação nos hospitais do Distrito Federal se deve a pacientes de outros Estados e regiões próximas. E o problema, que é sério, ficou tão banal, que dentro da categoria médica já se trata a questão da seguinte forma: “De Miami pra baixo é Entorno”. Cômico para uns, trágico para os doentes. Mas a verdade é que 40% da demanda nos hospitais locais vem de fora. Um agravante que costuma deixar a saúde pública – ironia do destino – em uma permanente UTI.

O boca a boca é uma propaganda eficiente, para o bem e para o mal. Dessa forma ocorre com a saúde pública. Quem traz muito paciente para cá é o próprio brasiliense. Um exemplo clássico de quem estuda o setor fala de pessoas que têm parentes enfermos em sua cidade natal. Sem atendimento lá, o jeito é chamar para cá. E a chegada do novo acolhido  gera mais uma dificuldade para o superlotado sistema.

Muito disso se deve ao SUS. Não se pode negar atendimento. É a tendência natural das coisas. E quando a população de uma região não consegue ser atendida por sua prefeitura, por ineficiência que seja, o destino tem nome. É Brasília. A capital é uma espécie de porta do labirinto. Os pacientes migram. A saúde pública é heterogênea. A saída é o antônimo: homogeneizar o atendimento.

Nos meios médicos revela-se que, num passado não tão remoto, a direção de um dos hospitais do DF fez um levantamento com 100 pacientes da clínica médica. A ideia era saber quem era morador local. A verdade que veio a tona chocou: sessenta e dois doentes vinham de outros Estados.

Os problemas são muitos; e as alternativas para reduzi-los, poucas. Uma das sugestões é a criação no âmbito da Secretaria de Saúde de uma subsecretaria de atenção ao Entorno. Seriam aplicadas chicotadas com elementos educativos e não meros paliativos. Um dos antídotos para os males que assolam a saúde da região seria o diálogo. Reuniões periódicas em Brasília com os secretários de Saúde do Entorno serviriam para a troca de conhecimentos técnicos. E cobranças, quando necessárias, seriam feitas nessas reuniões.

O diagnóstico a ser avaliado pela nova equipe de governo é fácil de ser entendido e aplicado. É preciso atacar onde o governo demorou para agir: nas emergências. Mas também é preciso um pouco mais de humanização. O PT pregou o que não fez e entrou em contradição. Por que manter – ao contrário do que havia sido prometido por Agnelo Queiroz – uma sala de enfermaria com quatro, cinco leitos? Isso é desumano. O ideal seriam dois. E isso deve ser buscado.

Mas esse aumento de leitos só se viabilizaria com a construção de novos hospitais. E dois estão nos planos de Rollemberg: um no Guará e outro no Gama.

Entretanto, é fato que construir hospitais custa dinheiro, e muito. Existem saídas. E a luz no fim do túnel pode envolver um acordo com empreiteiras. É isso o que vislumbra o grupo que traçou o plano de saúde do futuro governo. Um entendimento de governo com iniciativa privada colocaria permutas no jogo da solução. Em linhas gerais, o GDF indicaria onde o hospital seria erguido. E o pagamento seria em terrenos. Porém, com uma ressalva: a moeda de troca só seria entregue na conclusão das obras.

Em questão de recursos humanos nessas cidades o investimento também seria inevitável. Por isso, a coordenação de Rollemberg prevê um aumento de efetivo no Gama de 20% e no Guará de 50% do quadro de servidores que já existe hoje.

Essas estratégias estão ainda no papel. Da teoria para a prática há ainda um grand canyon a ser vencido. Contudo, existe disposição para fazer. Quem estiver ao lado de Rollemberg promete as obras necessárias para tirar a saúde do caos. E não cair mesmo erro de Agnelo, que jogou com palavras e priorizou obras abstratas e impressionistas de Candido Portinari, Leonardo da Vinci e por aí vai…

Elton Santos

Publicado originalmente em naredecomjoseseabra.com.br

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