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Maldição dos apelidos

Agnulo, Enrollemberg, Enganeis? Alcunhas jocosas passam pelo Buriti

Publicado

Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Em 2012, no meio de seu mandato, os adversários de Agnelo Queiroz começaram a compartilhar a alcunha jocosa de “Agnulo”. Caiu nas graças do povo, mesmo naqueles tempos pré-WhatsApp (sim, houve vida antes do aplicativo, o que os mais jovens hoje custam a acreditar…). E “colou” tanto que o mote de campanha do petista na tentativa de reeleição, em 2014, foi “justiça seja feita, verdade seja dita”, antes de enumerar longa lista de ações pretensamente realizadas.

Em sua maioria, ações que estavam em curso, ou até mesmo mal começadas, das quais algumas tiveram desfecho na gestão seguinte, como as obras no Pôr do Sol e no Sol Nascente, as creches e a entrega de casas e apartamentos do Minha Casa, Minha Vida, ou Morar Bem, na denominação brasiliense.

A tentativa frustrada de Agnelo/Filippelli ficar por mais quatro anos no Buriti era sobretudo ancorada numa tal de “casa arrumada”. Que ia permitir criar no Planalto Central o País das Maravilhas.

A campanha de Rollemberg em 2018 seguiu o mesmo caminho. E as pesquisas indicam claramente que terá o mesmo fim. A insistência em utilizar exatamente os mesmos termos é dificilmente compreensível. O socialista recebeu um caixa desastroso, dívidas declaradas elevadíssimas e até mesmo centenas de milhões de reais de compromissos irregulares e escondidos. Sua equipe fez um trabalho louvável de recuperação das finanças públicas, a atuação de Leany Lemos na Seplan foi tão bem avaliada que ela foi o trunfo, como primeira suplente, da votação de Leila do Vôlei no Plano Piloto.

O balanço fiscal parece ter sido arrumado (ainda que recorrendo a expedientes pouco ortodoxos como o empréstimo forçado no Iprev), mas só os especialistas apreciaram a obra. A população não elegeu um perito contabilista para o Buriti. O papel vai um pouco além disto.

O orçamento do GDF nestes quatro anos terá sido de R$ 75 bilhões. E, basicamente, as obras que serão as “assinaturas” do mandato Rollemberg, serão o segundo pavimento do Hospital da Criança (R$ 107 milhões) e, talvez, se ficar pronto mesmo, o conjunto de obras viárias na saída norte (R$ 207 milhões, provenientes do BNDES). Total, R$ 314 milhões.

O que foi feito do resto? E como chamar de “arrumada” uma casa onde faltou água durante meses, prédios e delegacias são fechados, UTIs e UPAs desativadas, crateras se abrem no meio das pistas? O governador não pode se queixar de ser azarento, pelo contrário. Não ter vítima humana na queda do viaduto no centro do cidade foi milagroso. E no acidente desta semana, em Vicente Pires, o fato de um casal de idosos ser proprietário de uma caminhonete e não de um carro pequeno provavelmente lhes salvou a vida.

O apelido “Enrollemberg” nem esperou a posse do atual governador. Já circulava nas redes logo após a eleição, ainda em 2014. Era um preconceito. Afinal, o homem nem tinha assumido. Mas pareceu que, uma vez no Palácio, Rodrigo fez questão de justificar a alcunha maldosa.

O caso emblemático talvez tenha sido o autódromo de Brasília. Destruído na calada da noite na última semana do mandato Agnelo, ele foi visitado nos primeiros dias de janeiro de 2015 pelo novo governante. Que se comoveu, assegurou, prometeu, anunciou datas. Que foram postergadas. E depois adiadas. E por fim procrastinadas. Agora, no fim do mandato, aparece um projeto sem pé nem cabeça com mudança de traçado da pista e sem previsão orçamentária. Uma enrolação de quatro anos.

Os exemplos não faltam. Durante a campanha, enquanto Rollemberg no rádio defendia a “casa arrumada”, 40 mil motoristas passavam diariamente ao lado do viaduto caído, abandonado. Um dos tapumes, lá, está prestes a cair também. De podre. E o Centro Administrativo? E o Mané Garrincha? E o Teatro Nacional?

Governar é fazer escolhas. Diante da situação fiscal, e com a legitimidade eleitoral, o Buriti tinha direito (e mesmo dever) de fazer escolhas. E de dizer, por exemplo, que não tinha interesse no Centrad (e não tinha mesmo), que ia sentar (em fevereiro de 2015) com o consórcio para achar uma solução. Ou que o autódromo ia ficar fechado mesmo (como ficou). Ou que os servidores só iam receber a terceira parcela do aumento no próximo governo. Mas não decidiu. Deixou no ar. Enrolou.

O próximo governador já está advertido. Os apelidos carregam uma maldição. Para não ter o mesmo destino que “Agnulo” e “Enrollemberg”, Ibaneis Rocha precisa mostrar que não será o “Enganeis” que já apareceu por aí.

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