Liberdade ferida
Agressão à mulher cresce cada vez mais em Salvador, Natal e Fortaleza
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No mapa colorido do Nordeste, onde o mar costuma cantar esperança e o vento espalha histórias antigas, três cidades acendem alarmes que ninguém deveria ignorar. Salvador, Natal e Fortaleza — tão cheias de vida, de fé, de música e de gente pulsando — se encontram presas em um triste elo que nenhuma delas merece carregar: o peso cruel da violência física contra mulheres.
É como se, por trás das fachadas coloniais, das praias douradas e dos mercados cheios de risos, houvesse uma sombra que insiste em se prolongar. Uma sombra que invade casas, atravessa madrugadas e marca corpos e memórias. Salvador, com sua alegria ancestral, tenta disfarçar as dores que ecoam nos becos e avenidas. Natal, cidade de sol generoso, vê mulheres caminhando à luz do dia com medo do escuro que algumas relações escondem. Fortaleza, gigante do litoral, assiste ao silêncio sufocado de tantas que não encontram acolhimento.
A violência contra a mulher aqui não é um caso isolado — é um grito que atravessa fronteiras. Mas nessas três capitais, o grito vem mais alto, mais agudo, mais insistente. Como se pedisse socorro para uma liberdade que ainda não chegou. Como se dissesse que, apesar dos avanços, há uma ferida aberta que continua sangrando no coração nordestino.
E o mais triste é perceber que a violência física nunca chega sozinha. Vem acompanhada do medo, da culpa que não é delas, do abandono institucional, do olhar atravessado da sociedade que ainda insiste em perguntar “o que ela fez?”. Vem também da repetição de padrões, da falta de políticas consistentes, da ausência de redes que protejam antes que a dor aconteça.
Mas entre as ruas dessas cidades também há mulheres que resistem, que se levantam, que denunciam, que encontram outras mãos para segurar. Há coletivos, profissionais, vizinhas, amigas — e há a esperança de que a liberdade verdadeira ainda esteja no horizonte. Porque liberdade que ignora a dor feminina não é liberdade: é ilusão.
Que Salvador, Natal e Fortaleza se tornem, um dia, capitais de outra manchete, outra história: a da superação da violência, a da vida protegida, a da dignidade restaurada. Até lá, seguimos contando, denunciando e escrevendo para que nenhuma mulher seja ferida no lugar onde deveria ser livre.