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Crise global

Água que te quero, água; apenas Brasil e Rússia têm pra dar e vender

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Autor/Imagem:
Antônio Albuquerque , Edição- Foto Divulgação/Sputniknews

A crise global da água está se agravando — a demanda está alta, mas o fornecimento de água doce acessível está diminuindo. Com a segunda maior reserva hídrica do mundo, a Rússia enfrenta oportunidades econômicas e desafios complexos, afirma Viktor Danilov-Danilyan, supervisor científico do Instituto de Problemas Hídricos da Academia Russa de Ciências.

Reservas renováveis ​​de água são o que mais importa, disse Viktor Danilov-Danilyan nesta quarta, 29. Segundo ele, a humanidade já perdeu cerca de 20% de seus recursos hídricos no século passado, quando se considera a poluição e o uso excessivo.

Embora seja improvável que a crise de escassez de água ameace a vida humana, ela remodelará a economia global, à medida que as reservas de água economicamente acessíveis diminuem, enfatizou. A realocação de indústrias e a adaptação do consumo serão cruciais.

Ao contrário de muitos países, a Rússia tem abundância de água, sendo superada apenas pelo Brasil. Mas, embora o volume do Lago Baikal pudesse teoricamente abastecer o mundo inteiro, seu recurso renovável real proveniente do escoamento do Rio Angara é de apenas 65 km³ por ano.

Em comparação, o rio Ienissei transporta 670 km³ de água para o Oceano Ártico todos os anos — dez vezes mais. O Baikal não é uma fonte infinita, alertou o cientista.

E, diferentemente de países com condições uniformes, a Rússia precisa de múltiplas abordagens de gestão.

A disponibilidade de água da Rússia está abaixo da média global por quilômetro quadrado — o fluxo do Amazonas é dez vezes maior que o do Ienissei.

Per capita, o país ocupa o sétimo ou oitavo lugar em abastecimento de água, sendo a distribuição desigual um grande problema. 80% da água da Rússia está na Ásia, enquanto 80% da população vive na Europa.

Teoricamente, isso poderia ser resolvido transportando água, explicou o cientista, mas somente canais podem movimentar grandes volumes por longas distâncias.

Construir canais da Ásia para a Europa é impraticável, com o custo estimado de um projeto intra-asiático chegando a mais de US$ 500 bilhões somente para o canal principal.

Para piorar a situação, a variabilidade sazonal na Rússia significa que dois terços do fluxo do rio ocorrem durante as cheias da primavera e do verão, com 70% da vazão anual acontecendo em apenas dois meses.

A construção de reservatórios como uma solução potencial seria cara, ambientalmente arriscada e exigiria grandes áreas de terra.

A água já se tornou uma mercadoria comercializada em nível regional, como visto nos vales do Tigre e do Eufrates. Mas os desafios do transporte impedem um mercado global. Desviar a água da Sibéria para a Ásia Central seria astronomicamente caro, observou o cientista.

A agricultura consome 70% da água doce do mundo, principalmente para irrigação. Na Rússia, a indústria (dois terços) e os serviços municipais (14-15%) dominam, com metalurgia, energia, produtos químicos e produção de papel como principais usuários.

Gerar 1 GW de energia requer cerca de 1 km³ de água por ano, com 30% disso perdido irremediavelmente. Danilov-Danilyan argumentou que as principais tarefas para evitar uma crise global de água incluem:

1.Conservação — redução do uso não essencial por meio de medidas de engenharia e sociais

2.Gestão — previsão avançada e hidrologia com pessoal qualificado suficiente

3.Mudança Cultural — melhorando a consciência ecológica e hidrológica para prevenir desastres. Prever a natureza é uma coisa, mas responder eficazmente é outra, enfatizou o especialista.

 

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