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Aliança Arruda-Roriz implode. Liliane terá aval para voo solo?

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Nós, da Cidade Maravilhosa, costumamos dizer que o Rio ferve sob um calor de 40 graus. Mas acabo de descobrir que Brasília também ferve, embora sob outro clima, o da política regada a conchavos, traições e alianças espúrias.

Isso eu depreendi durante minha breve passagem pela capital da República, onde estive para me inteirar da situação de Notibras, cuja Redação assumi com a saída do ex-diretor José Seabra.

Acostumada a frequentar ambientes semelhantes no Rio, almocei, com os herdeiros de José Seabra – e consequentemente, atuais dirigentes do Grupo Notibras de Comunicação – em um restaurante que recebe assiduamente parlamentares e lobistas de todas as estirpes.

Fui atraída por uma conversa em uma mesa próxima. O aguçado ouvido de repórter captou palavra por palavra. O assunto girava em torno da coligação do nanico PRTB de Joaquim Roriz com o mediano PR de José Roberto Arruda.

Indaguei de meus anfitriões quem eram as pessoas que ocupavam aquela mesa. Ao menos dois foram identificados como colaboradores próximos de Roriz. Peguei da caneta e comecei a anotar palavras soltas.

Quando pedimos nossa conta, já havia uma conclusão: a aliança dos dois ex-governadores está por um fio. O rompimento não sobreviverá ao final de abril, início de maio. E a deputada Liliane Roriz, indicada como vice de Arruda, terá carta branca para seguir seu próprio rumo.

Sorte minha ser do Rio. Fosse outro conceituado repórter de Brasília, não teria passado despercebido. E a conversa dos vizinhos de mesa por certo se daria entre ouvidos.

Do muito que se falava em termos de política, intrigou-me a tranquilidade dos comensais ao discorrerem acerca da aliança do grupo rorizista com o arrudismo. E ficou claro que um dos interlocutores tentava acalmar um companheiro, aparentemente indignado com a junção dessas antigas – embora hoje capengas – forças políticas de Brasília.

“Ele é um traidor”, atacava o amigo, referindo-se a Arruda. Vestido de uma paciência incomum – essa a minha avaliação – o interlocutor respondia afirmando que “se nós sabemos disso, imagina o Velho [forma com que, fiquei sabendo, Roriz é chamado por correligionários]”.

A conversa se desenrolava e, a cada intervenção, mais me atraía. Claro, investia na audição, mas de forma discreta. “Vocês estão jogando o nome da garota na lama”, indicou um deles. Garota, pelo que aparentou, seria a deputada distrital Liliane Roriz, filha mais nova de Joaquim, que teria de abandonar uma reeleição garantida na Câmara Legislativa para se aventurar como vice na chapa de Arruda.

“Calma. Pode ser que isso não chegue ao mês que vem. Tem muita água para rolar”, retrucava o interlocutor, com ares até de indiferença de temores futuros, entre garfadas em um apetitoso prato de salmão servido com alcaparras e creme de maracujá.

Depois de algumas taças de um espumante italiano, o tom da conversa passou a ser elevado e a revolta se fazia mais notável, mas não necessariamente palatável.

Ouvi com clareza, dentre tantos pontos contrários à aliança, o histórico das relações de Arruda x Roriz, Arruda x Luiz Estevão, Arruda x Paulo Octávio. Nas frases trocadas, em absolutamente todas, houve uma palavra em comum: traição. Frisou-se ainda que, pelo temperamento de Arruda, “mais traições virão”.

Com certeza um dos interlocutores não era Nostradamus. Porém, mesmo assim, atreveu-se a prever o futuro.

É notório – como descobri no solo da capital do País – que o assunto na cidade foi o ato de complacência da herdeira de Roriz, a promissora Liliane, ao aceitar missão tão inconsequente de seu partido, de emprestar seu nome para cacifar José Roberto Arruda a voltar para o Buriti.

Pouco conheço de Liliane. Contudo, pelo que leio sobre ela, e as confidências que me foram feitas por alguns colegas, entendi que ela nunca assumiu pretensões assim. Sempre esteve preocupada com seu mandato e em ser reeleita com uma expressiva votação. Me foi dito, inclusive, a título de recordação, que se fosse vontade do Velho, ela até aceitaria integrar uma chapa majoritária. Mas não como vice.

Hoje, passadas longas horas da conversa que testemunhei enquanto almoçava, penso que algo excepcional aconteceu na mansão dos Roriz no Park Way. Digo isso porque não entra na cabeça de ninguém, nem mesmo de resmungões de restaurante, como o suposto grupo rorizista teria colocado o seu maior – e talvez único tesouro – nas mãos de quem sempre tentou puxar o tapete do patriarca da família.

Me recordo que um dos presentes na mesa vizinha comentou que “nenhum deles tem nada a perder; nem Arruda, nem Roriz, nem Luiz Estevão. Para eles, qualquer coisa já é lucro. A garota será a única derrotada”.

Em sua breve análise, talvez até tenha razão. Arruda saiu do Buriti pelas portas dos fundos, preso pela Polícia Federal. Roriz, já sem condições de saúde para enfrentar uma eleição, também carrega estigmas terríveis na cidade. E Luiz Estevão, então, nem se fala. Quem sabe da história dele é Deus e a torcida do flamengo.

Avalio que a “garota” Liliane ainda não tenha se contaminado com esse histórico. Me foi dito em Brasília que a deputada é admirada e elogiada pela sua atuação até mesmo por integrantes do Partido dos Trabalhadores, teoricamente arqui-inimigo de Roriz, Arruda e Luiz Estevão. Não bastasse isso, ela é cortejada pelo PSDB, DEM, PSD e PPS.

Entretanto, sabe-se que nenhum desses partidos quer ouvir falar do “trio parada dura”.

Liliane é exceção. Ela tem um bom trânsito com Cristovam Buarque, Rodrigo Rollemberg e até com Chico Vigilante e Arlete Sampaio, considerados xiitas dentro do PT. Então, o que pensar sobre a mudança radical dela para jogar tudo isso para cima? Só pode ter sido por um motivo: a imposição. Sobre o que, ou pelo que, já não sei. Não tive tempo para descobrir, porque o Rio me chamava.

Pela indignação daquela mesa, avalio que muita gente comunga do mesmo pensamento – mas não do mesmo temperamento de um dos presentes, que fique claro.  A conclusão é a de que algo não está acomodado. Ao contrário. Tem, sim, coisas incomodando.

Como mulher, entendo o suposto drama que a “garota” estaria vivendo. E como jornalista, prestes a trocar as águas de Ipanema pelas do Paranoá, crio a expectativa de que a deputada Liliane Roriz acorde para tal fato, já que foi a única que sobrou do clã rorizista com possibilidades de futuro.

Se agir diferente, temo que Liliane se perca, e seja atacada pelo mesmo estigma da irmã, Jaqueline, cujo histórico é amplamente conhecido.

Estou viajando a São Paulo ver como anda a sucursal de Notibras por lá. Antes de embarcar, associo o que ouvi no restaurante a uma música de Rita Lee. Se é verdade que Liliane é a ovelha negra da família, ela deve se afastar o quanto antes de lobos em pele de cordeiro.

Amanda Jansen, Editora Chefe

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