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O carambolo

Alunos dão troco por castigo em Colégio Diocesano

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Aqueles rapazes do colégio Diocesano, numa importante cidade do interior do Nordeste, estavam dispostos a pregar uma peça no diretor, o cônego Anderson Magalhães. Os alunos não tinham lá muita simpatia pelo homem, que possuía fama de rígido, especialmente com meninos arteiros. Que fossem fazer travessuras bem longe da escola.

Rubens e Jorge, na hora do recreio, confabulavam, quando Raimundo e Salviano se aproximaram. Os quatro queriam aprontar uma com o diretor, mas ainda não sabiam como. Ideias pululavam daquelas mentes juvenis, até que Raimundo se distraiu com um calango correndo pelo pátio.

— Presta atenção, Raimundo! – disse Rubens.

— Desculpe. Só estava vendo o carambolo passar.

— Deixa esse bicho pra lá. Temos que pensar em alguma coisa pra vingar aquela bronca que levamos do diretor na semana passada.

— Ih, lá vai o padre Clodovil tocar o sino.

Nisso, os olhos dos quatro garotos brilharam ao ver o padre puxando a corda para decretar o final do recreio. Em seguida, tentaram encontrar o tal calango que havia distraído Raimundo. Que pena! O lagarto se escafedeu.

No dia seguinte, os amigos acertaram o plano de vingança contra o diretor. Eles iriam pegar o carambolo e, depois, o amarrariam à corda do sino da escola. Caça daqui, caça dali, mas nada do bicho aparecer. Bobo que não era, ficou ressabiado com tantos olhares em sua direção. Tratou logo de se mandar daquele lugar, até que as coisas se acalmassem.

Desanimados, os meninos retornaram para a sala de aula assim que o sino anunciou o fim do recreio. Que tivessem mais sorte no dia seguinte, o que também não aconteceu. Nem na outra semana, até que o Raimundo surgiu todo sorridente assim que pisou na escola e encontrou os companheiros na porta da sala.

— Que sorriso é esse, Raimundo? – Rubens perguntou.

O rapaz, com a mão esquerda no bolso da calça, disse que havia capturado um carambolo no quintal da sua casa. Os amigos não acreditavam naquilo, tamanha felicidade que os tomou. Um carambolo! Um carambolo! Finalmente, um carambolo!

As duas primeiras aulas daquele dia foram de matemática. Raimundo, que já não era muito bom com os números, se perdeu por completo naquele dia, ainda mais porque o danado do calango não parava de se mexer dentro da calça. Seja como for, finalmente o sinal para o recreio foi ouvido e todos os alunos correram para o pátio.

Os quatro amigos se aproximaram do sino, como se tivessem apreciando a paisagem. Ficou acordado de Jorge e Salviano vigiarem para que ninguém percebesse o que eles iriam aprontar. Raimundo segurou o carambolo bem firme para que ele não escapasse, enquanto Rubens o amarrou à ponta da corda do sino. Em seguida, artistas que eram, os quatro voltaram a passear pelo pátio, como se nada tivesse acontecido.

O que se seguiu foi que o padre Clodovil, assim que a hora do recreio estava perto de acabar, se aproximou do sino e, sem perceber aquele calango preso, pegou a corda justamente onde o bicho estava amarrado. Foi aquele susto! Tanto é que o padre caiu para trás e ergueu as pernas. Pra quê? Todos os alunos do colégio começaram a gargalhar e apontar para as vergonhas do padre.

Não pense você que aquilo ficou barato. Não mesmo! O diretor, assim que os estudantes retornaram para a sala, foi lá ter uma conversinha com todos. Queria porque queria que o culpado daquele pecado se entregasse. Ninguém apareceu para assumir a culpa. O cônego insistiu. Os alunos continuaram mudos, como se santos fossem.

— Deus está vendo! Deus está vendo!

Os estudantes se entreolharam, mas continuaram negando. O diretor tornou a insistir. No entanto, os meninos, olhos baixos, pela terceira vez, balançaram negativamente aquelas cabeças repletas de culpa. Que Deus tenha piedade daquelas pobres almas. Ninguém foi punido.

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