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Letras da Lei

Ameaça de bolsonaristas não cala patriotas sensatos

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo*

Normalmente apago os zaps políticos, sejam eles de direita ou de esquerda. Também não me interesso pelos de centro, embora os leia. No português mais chulo, o caminho desse tipo de mensagem é a casa do…ou fundo da lixeira. Esta semana recebi duas de um amigo esclarecido, tecnicamente reconhecido pelo mundo da informática e que já viveu quase um século para entender o que se deve esperar dos populistas. Pelo conteúdo ameaçador e absurdamente terrorista, não tive coragem de apagar. Arquivei para mostrar, em 2022, a esquerdopatas e direitopatas – se sobrarem -, seja qual for o resultado da eleição presidencial.

Com a foto do mito Jair Bolsonaro estampada em fundo preto, em uma delas o texto diz o seguinte: “Querem uma guerra civil? Tentem tirar esse homem do poder. # Estamos com Bolsonaro. Vamos viralizar e mostrar nossa força”. Do alto de minha estranheza com a maluquice do amigo – imaginava-o são -, repliquei informando apenas que lamentava, mas que, haja o que houver, estarei do outro lado. Acrescentei que tinha horror à esquerda e à direita, mas poderia flertar com o centro, pois adoro ser brasileiro correto, cumpridor de deveres e religioso pagador de impostos. Não houve tréplica.

Absurda não fosse séria, a ameaça traduz o que prega a seita bolsonarista desde sua ascensão ao poder e o que acreditam os lunáticos seguidores do mestre. Felizmente, o líder maior do negacionismo e da sandice já deixou o poder. E pela porta dos fundos. Ex-presidente da maior potência econômica do mundo, o magnata Donald Trump foi apeado da Casa Branca como o pior presidente da história dos Estados Unidos desde o democrata Andrew Johnson, 17º mandatário norte-americano, que ascendeu com o assassinato de Abraham Lincoln, sofreu impeachment e acabou absolvido por um voto.

Marcada por fracassos na política externa, acusações de racismo e de homofobia, polêmicas com adversários e correligionários, pela retórica incendiária e de ruptura e, sobretudo, por liderar um grupo que minimizou à exaustão a Covid-19, contribuindo diretamente para a morte de quase 400 mil pessoas, a era Trump também será lembrada pelos dois impeachments sofridos em quatro anos e pela denúncia sem provas de fraude eleitoral no pleito de novembro, avaliada pelos tribunais e pelos antitrumpistas como a maior fake já produzida nos EUA.

Tudo que vivemos hoje no Brasil não é mera coincidência. Infelizmente. Se ocorrer, a guerra civil antecipada dois anos antes das eleições talvez envolva policiais inescrupulosos, parlamentares oportunistas e, provavelmente, magistrados descompromissados com a lei. O problema é juntar todo esse grupo em um único pacote. Por mais que queiram tentar, não será fácil. Os compromissos e interesses de parte à parte não serão menores do que o conflito a ser criado com amontoado tão antagônico. Dividir esse pão não será tarefa fácil.

A segunda mensagem ilustra a afirmação acima. Apresenta Bolsonaro com braços, cinturas e pernas amarrados, tentando apertar um botão de emergência, com a seguinte legenda: “Nunca vi uma charge tão representativa da realidade atual como essa”. Reacionário da cabeça aos pés, meu amigo informático não deve ter percebido que, na melhor das hipóteses, o desenho é dúbio. Para ele, Bolsonaro aparece amordaçado, vilipendiado e sem condições de trabalhar. Para mim, a ilustração é bastante clara ao mostrar o Congresso, as instituições e o povo rindo com a situação, isto é, preferindo o presidente no ócio, sem prejuízo do andamento do País.

Inegavelmente Trump fez escola no Brasil. Os alunos tupiniquins tiveram tempo, mas, ao que parece, aprenderam somente o que é ruim. Isso se mantivermos a dúvida de que houve alguma coisa de bom. O fracassado combate protagonizado pelo presidente Jair Bolsonaro contra o coronavírus e, mais recentemente, se opondo à vacina, especialmente à chinesa, abateu ministros, derrubou dogmas, gerou conflitos diplomáticos irreversíveis e pode dilacerar a base governista na Câmara e no Senado. O ego, o egoísmo e a absurda necessidade de esticar o cabo de guerra acabou como todos os sábios imaginavam.

Venceram os mais sensatos, os verdadeiros políticos, os técnicos de reconhecimento internacional, deixando literalmente o presidente com a brocha (com ch mesmo) na mão. Para o Brasil, o mais relevante é, aliado ao fim da era Trump, vivermos tempos de desova do fígado. Pelo menos no discurso. Experimentamos uma fase de descobertas sobre quem sabe ou não fazer alguma coisa. No início do governo, quando tudo convergia, quando todos apoiavam incondicionalmente as posições, gritos, passeios demagógicos e ameaças de invasão de prédios públicos – o do Supremo foi primeiro -, os generais do governo não se intimidavam com as críticas da maioria.

Concordar com a afirmação da minoria de que as Forças Armadas estão prontas para um suposto golpe em 2022 é mais uma mentira. Como assegurou um comedido, sensato e correto general em recente artigo no Correio Braziliense, a função das Forças Armadas “é de servidão exclusiva à sociedade”. De acordo com o militar, “devemos perseguir a postura do general Góis Monteiro na década de 30, que sempre defendeu a política do Exército e não a política no Exército”. O recado é claro.

Fazendo minhas as palavras do graduado e sensato representante castrense, condutas desprovidas de sensibilidade não podem ser atribuídas à instituição. Sem entrar no mérito, longe deste ou de qualquer outro governo, Exército, Marinha e Aeronáutica cumprem bem o papel outorgado pela Constituição. Definitivamente, o país que eu quero não é o que estou vivendo.

*Wenceslau Araújo é jornalista

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