Amor, ética e inteligência, mas pode chamar de Alfredo Obliziner
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em
José Escarlate
Gaúcho de nascimento, Alfredo Obliziner trabalhava nos Diários Associados, em São Paulo, quando em 1959 recebeu convite do próprio Assis Chateaubriand, o que era uma ordem. Vir para Brasília ajudar a comandar o jornal associado que começaria a circular dia 21 de abril de 1960, com a inauguração da cidade.
Desembarcou no velho aeroporto de madeira dia 17 de abril, trazendo como bagagem uma surrada mala. Foi levado então ao acampamento pioneiro do jornal, instalado onde hoje é o pátio de estacionamento, no Setor de Indústrias Gráficas. Na manhã seguinte, começou a trabalhar num salão, que era a redação improvisada do jornal, cedida pela Novacap, na avenida W-3 Sul.
Na ocasião, o repórter Alfredo Obliziner recebeu a matrícula 007 do Correio Braziliense, que conservou até a morte. E a partir desse dia, Alfredo começou a preparar as matérias que seriam apresentadas no primeiro número do jornal.
A edição foi um sucesso e desde esse dia, o “Alemão” não parou mais, ocupando todos os cargos de comando e projeção da história do Correio Braziliense. Desde repórter e redator até Chefe e Secretário de Redação. Foi editor e Coordenador de Política, comandando ainda a ANDA – Agência de Notícias dos Diários Associados.
Alfredo, segundo Arí Cunha, seu companheiro desde o primeiro dia, “é a lembrança de um jornalismo feito com amor, ética e inteligência”. Mas era, também, um homem de múltiplas ações. Foi professor catedrático da disciplina de Ética e Legislação do CEUB e sempre apoiava novos valores, dando oportunidades e orientando-os na sequência da profissão, como fez comigo, abrindo-me as portas para funções importantes que valorizaram o meu currículo.
O Alfredo me pegou cru, segundo dizia, “um diamante a ser lapidado”. Gostava de fazer isso. Aceitou-me como copydesk de uma redação cheia de “cobras” e me deu autorização para cortar o que entendesse, desde que explicasse depois a razão dos cortes. E quando os repórteres reclamavam, Alfredo mostrava a eles o motivo, a razão.
Depois, deu-me a oportunidade de chefiar a reportagem de um jornal que só fazia crescer e que sofria duramente os efeitos da censura, numa época difícil, de ditadura militar. Muitas vezes trabalhamos tendo ao lado soldados armados, na redação. Me confiou de mão beijada o lançamento e comando da coluna Brasília – DF, um dos maiores sucessos editoriais do Correio, e que existe até hoje.
Alfredo Obliziner, que também comandou a Secretaria de Imprensa da Câmara dos Deputados, onde foi repórter e editor de política por muitos anos, morreu de câncer no dia 27 de agosto de 2002, no Hospital Santa Lúcia, após 43 anos de trabalho dedicados ao Correio Braziliense e a Brasília. No dia seguinte, às 15 horas, seu corpo foi levado ao Crematório de Valparaíso.
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