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Mandamento alagoano

Anjo de Jair e agora de Lula, Lira é pêndulo que equilibra política

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Armando Cardoso* e José Seabra** - Foto Marcelo Camargo/ABr

Nos esportes individuais ou coletivos, somente um competidor ou uma equipe alcançam o título, consequentemente o estrelato. Ou seja, é para o vencedor que convergem a glória, os holofotes, o glamour e a maior fatia do bolo dos patrocinadores. É a lei do mercado esportivo.

Na política, a toada é a mesma. Talvez com acordes mais sensíveis, quando a banda é comandada por um único maestro, ou muito agudos, quando o palco a ser montado é sabidamente pulverizado em grupos com poderes variados.

Considerando a máxima de Ulysses Guimarães, para quem a política é a arte do possível, adequar-se ao xadrez político faz parte do tempo, do formato do tabuleiro e das condições em que as peças são ou serão movidas.

Traduzindo, no cíclico jogo do poder, reis, damas, bispos e peões acabam tendo o mesmo peso de uma torre que abriga um puro-sangue. Tudo depende da posição de cada um. No Brasil do século XX, apenas a lealdade anda de mãos dadas com os poderosos.

Embora convergentes quando o objetivo é o Brasil e seu povo, ideologia, interesses pessoais e aliados cada um tem o seu. Sempre foi e sempre será assim. Afinal, toda unanimidade tende a ser nociva. No atual quadro, não há como negar que o governo petista está trabalhando para acertar. Também é inquestionável o apoio de boa parte do Centrão, particularmente do seu líder maior, o deputado Arthur Lira.

Em qualquer palco iluminado há divergências. Elas são um direito dos pares, sejam eles aliados ou antagônicos. Entretanto, antes de criticar, é dever de todos reconhecer que o peso de Lira é fundamental para a pendular balança de Lula se equilibrar como é do desejo de todos.

Amado e odiado, o deputado alagoano já provou ao país que, independente do governante, age como os antigos banqueiros do jogo do bicho: vale o que está escrito. Ou seja, não foge do acordo firmado com esse ou com aquele presidente. Aportuguesando, no Congresso, Palácio do Planalto, Supremo Tribunal ou nas prefeituras de Alagoas, ninguém é capaz de dizer que ele deixou de cumprir o que prometeu, assinou ou reconheceu em cartório.

Com apoio de Lira, Lula rapidamente conquistou a primazia de governar com poucos sobressaltos. Em menos de um ano, o líder petista aprovou a reforma tributária, o arcabouço fiscal, a medida provisória sobre a estrutura dos ministérios e a MP das Subvenções, que deve render cerca de 35 bilhões de reais aos cofres da União. É claro que ainda há muita coisa por fazer, principalmente na tensa relação Executivo-Legislativo.

Mas os indicadores dão conta de que, juntos, Lula e Lira trabalham para distensionar e desativar urgentemente o modo ódio de classes. Adversários ideológicos e não inimigos, eles parecem dispostos a evitar que esses dois poderes virem um imaginário ringue de uma contenda surreal. Seria o mesmo que transformar o mandato em reality do tipo topa tudo por dinheiro.

Arthur Lira recebeu críticas de A a Z por um encontro com o ex-presidente Jair Messias, que passava férias no reduto político do presidente da Câmara. É um patrulhamento desnecessário, na medida em que Jair foi e Lula é. Amigo dos amigos, Lira segue o mandamento dos alagoanos que já povoaram o poder brasileiro: divergir sem trair.

Apesar de seus posicionamentos laterais, é o que ele tem feito em Brasília e em Alagoas, Estado em que há tempos despontou como o político de envergadura nacional que jamais abandonou suas origens. Os nativos com alguma imaginação política são unânimes em afirmar que o líder do Centrão é conhecido regionalmente pela liberdade do contato e, sobretudo, pelas frequentes visitas que faz às prefeituras, sejam elas à direita ou à esquerda.

O que a maioria dos críticos desconhece é a atual complexidade do Congresso. Se no passado a dimensão e o fervor político alcançavam as grandes corporações, hoje o maior e mais eficaz interesse é pessoal e das pequenas oligarquias regionais. Daí, a necessidade de cada parlamentar ser uma negociação. Mais uma vez, a ajuda de Lira a Lula tem sido imprescindível.

Reiterando a tese de que a política é a arte do possível, vale destacar que, de mandato em mandato, cada um descobre o seu anjo. Curiosa ou forçosamente, o de Jair é o mesmo de Luiz Inácio. Pelo menos Lula tem aproveitado bem os atalhos abertos para que sua administração seja mais positiva e operante.

Quanto a Arthur Lira, querendo ou não, o Planalto e a Esplanada dos Ministérios terão de engoli-lo. Esse é o clima que se respira em Alagoas. É o que se ouve e o que se vê na terra de dois marechais, de um menestrel, de um fracassado caçador de marajás, de um camaleão e do dono do pedaço, que hoje é o presidente da Câmara dos Deputados.

*Presidente do Conselho Editorial de Notibras
**Fundador de Notibras

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