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Apocalipse começa por Alagoas com ações maléficas da Braskem

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Autor/Imagem:
Marina Amaral - Diretora Executiva da Agência Pública/Foto Joédson Alves-ABr

O fim está próximo – dizem. Desastres naturais cada vez mais frequentes, crise climática, tragédias humanas, seriam estes os sinais de que estamos mais perto da nossa extinção?

De fato, no ano passado, o Relógio do Juízo Final acelerou. Esse relógio indica o que calculam os cientistas: temos cada vez menos tempo para tentar evitar uma catástrofe global. Em 2020, antes da pandemia de COVID-19, os ponteiros marcavam 100 segundos para a meia-noite, que representa o colapso geral. Agora são 90 segundos.

Para muitas populações, o apocalipse já começou. Em Maceió (AL), o chão se abriu, engolindo casas e ruas inteiras, por causa da exploração desenfreada de sal-gema pela petrolífera Braskem. Mais de 50 mil pessoas foram expulsas de suas residências. No ano passado, muitas foram despejadas de forma truculenta no meio da madrugada, como quem foge da guerra.

Bairros inteiros viraram zonas fantasmas. Parecia o fim dos tempos. No meio daquele caos, contei a história de uma igreja que decidiu ficar e enfrentar o dragão do Apocalipse. Para essa comunidade de fé, o monstro poderoso de sete cabeças descrito pelo livro bíblico é a Braskem.

A Igreja Batista do Pinheiro virou um símbolo de resistência na luta desigual das populações atingidas na capital alagoana contra a gigante petroquímica, disputa que se arrasta há anos. Reconhecido como Patrimônio Material e Imaterial de Alagoas, o templo foi um dos últimos imóveis a serem desocupados no ano passado nas regiões sob risco de colapso. Pouco tempo depois, a mina 18 rompeu na Lagoa Mundaú, a alguns quarteirões do templo.

Embora a igreja esteja no mapa de risco da Braskem, que determina áreas de desocupação, análises técnicas da própria Defesa Civil de Maceió e da Universidade Federal de Alagoas atestam que o imóvel está seguro e “não apresenta danos nas estruturas que gere o risco iminente de colapso”.

No último acordo, firmado em julho, a petroquímica se comprometeu a pagar R$ 1,7 bilhão à Prefeitura de Maceió em contrapartida às indenizações pagas e impostos que deixaram de ser recolhidos dos 14 mil imóveis afetados. Mas, em compensação, a empresa se tornará dona dos terrenos abandonados.

“Não faremos acordo com a Braskem, ainda que a gente sofra o dano. Não queremos que ela se torne dona do nosso terreno”, me disse a pastora Odja Barros, da Batista do Pinheiro.

Em dezembro, uma CPI foi instalada no Senado Federal para investigar as responsabilidades da Braskem no que é apontado como o maior crime ambiental urbano do país. Mas os trabalhos só devem começar efetivamente em fevereiro deste ano, após o recesso parlamentar.

Enquanto isso, o templo está interditado e os cultos da Batista do Pinheiro estão sendo realizados em locais cedidos e áreas públicas. As famílias expulsas dos seus territórios estão sendo empurradas para as periferias pela especulação imobiliária. Muitas não foram indenizadas ou reclamam de terem recebido valores muito abaixo do mercado.

Grandes empresas, como a Braskem, “operam como dragões, destruindo a terra”, diz a pastora. Elas são as grandes operadoras do mal neste mundo, cavaleiros do apocalipse que ameaçam populações vulneráveis, perseguem quilombolas e indígenas. São gigantes empresariais que desmatam florestas e jogam poluentes nas águas, na terra e no ar, fazendo a temperatura do planeta subir.

Seria possível vencer esses dragões e adiar o fim do mundo? A pastora Odja Barros acha que não. Mas ela diz que é necessário não se curvar, não se vender e discernir as estruturas do mal que causam destruição. O fim pode estar próximo, mas as vozes de resistência são muitas. No que depender de nós, estaremos dispostos e abertos a ouvi-las.

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