Rendição à verdade
Após simulada tensão, Alcolumbre volta a morrer de amores por Lula
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Nada melhor do que um orçamento aprovado para aparar qualquer tipo de aresta política. A possibilidade de mais emendas liberadas adoça a boca e acalma o coração dos mais raivosos, principalmente daqueles que se utilizam da celeuma para se cacifar politicamente. Nenhuma alusão a quem quer que seja, mas não há bandeira que permaneça vermelha quando há acenos financeiros à vista. É, sempre foi e sempre será esse o modus operandi da medíocre política brasileira.
Após um período de simulada tensão entre o presidente Luiz Inácio e Davi Alcolumbre (PP-AP), presidente do Senado, parece que as nuvens negras que cobriam a Praça dos Três Poderes começaram a se dissipar. Nessa sexta-feira (05), durante evento público em Macapá, Alcolumbre usou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para elogiar e agradecer, pessoal e institucionalmente a Lula “pela sensibilidade, pelo compromisso e pelo espírito público” com o Norte e com o Nordeste.
Ainda é cedo para afirmar que está encerrado o estresse pela indicação de Jorge Messias para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Entretanto, tudo indica que o pior já passou. A poeira começou a baixar quando Davi Alcolumbre decidiu cancelar a sabatina de Messias, inicialmente marcada para 10 de dezembro. Semana que vem, Lula deve encaminhar ao Senado a mensagem formalizando a indicação do advogado-geral da União. Aí o quartel de Abrantes voltará a ser como dantes.
Pelo menos o senador entendeu que não é dele a prerrogativa de nomear ministros do STF. Dito isto, é vida que segue. O que teria obrigado Alcolumbre a mudar tão rapidamente o humor em relação ao Palácio do Planalto? Independentemente da motivação, importante é o entendimento entre os chefes de poderes. A matemática político-partidária mostra diariamente que, na briga entre o mar e o rochedo, quem engole lama é o marisco, também conhecido como eleitor.
O mínimo que o povo cansado espera de seus representantes é boa intenção. O trabalho conjunto é uma consequência. Portanto, sem considerar que a indicação de Jorge Messias é apenas um detalhe, que o Senado ajude o Executivo a empenhar o Orçamento da União para 2026 em benefício do trabalhador. A sequência de patifarias econômicas comprova que a sociedade merece mais respeito. O buraco já não cabe mais dinheiro público.
O escândalo das Lojas Americanas levou R$ 50 bilhões; o do Master, mais R$ 12 bi; o da Faria Lima (Carbono Oculto), outros 52 bilhões. Ou seja, mais de R$ 110 bilhões evaporados pelas mãos dos ricos. E depois a direita quer alardear que o problema do país é a favela, o Bolsa Família e o salário mínimo. A rendição de Alcolumbre pode ser resultado de uma frase do ensaísta inglês George Orwell. Segundo Orwell, quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia aqueles que a revelam.
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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras