O amor se arranja
Aprendemos a Amar o Mundo de Novo
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Durante muito tempo acreditamos que o amor era limitado. Que só poderia florescer por uma única pessoa, um único rosto, um único destino. Crescemos ouvindo que o amor tinha dono, endereço e exclusividade como se fosse pequeno demais para caber em mais de um lugar.
E, por isso, quando perdemos alguém, acreditamos que perdíamos o amor junto. Que o vazio seria permanente. Que o coração não aprenderia a se abrir de novo.
Mas a vida, com sua ironia suave e sua generosidade inesperada, nos mostrou que estávamos errados. Descobrimos que o amor não tem uma forma só, nem um rumo só, nem um nome só. Descobrimos que ele se rearranja, se expande, se recria exatamente como nós fazemos depois de uma dor.
Hoje, para nossa surpresa, amamos pelo menos uma cidade inteira. Amamos o barulho das ruas que nos adotaram quando ainda estávamos despedaçados. Amamos os desconhecidos que viraram abraços, conversas e pertencimento. Amamos as histórias que se cruzaram com as nossas sem pedir licença. Amamos os bares iluminados, as esquinas que guardam memórias, as manhãs que prometeram recomeços. Amamos o jeito como uma cidade inteira pode caber dentro do peito quando estamos finalmente prontos para viver de novo.
E percebemos que há muitos amores na vida amores que não são românticos, mas salvam do mesmo jeito. Amores que não têm aliança, mas têm afeto. Amores que não deitam na nossa cama, mas caminham ao nosso lado. Amores que vêm em forma de gente, mas também em forma de lugar.
A verdade é que o coração é muito maior do que nos ensinaram. Ele não se limita a um nome. Ele se relembra do prazer de existir quando encontra um lar, mesmo que esse lar seja feito de ruas, pontes e pessoas que apareceram por acaso.
E assim entendemos, sem drama e sem pressa, que não perdemos a capacidade de amar. Apenas mudamos a direção do amor.
Hoje sabemos: não é que deixamos de amar alguém é que aprendemos a amar o mundo inteiro a partir da cidade que nos abraçou.
E isso, no fim, foi a forma mais bonita de renascer.