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Multiartista

Armando Lôbo reverencia frevo com filme-ópera

Publicado

Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição

O compositor e multiartista pernambucano Armando Lôbo volta a causar frisson com seu hibridismo musical, sempre de amplo espectro estético e semântico. Conhecido por desenvolver gêneros e estilos musicais diversos, com o uso de matizes experimentais e abordagem conceitual com tonalidade filosófica e antropológica, o artista vai lançar no YouTube (www.youtube.com/microoperas), no próximo dia 30 de junho, quarta-feira – não por acaso o último dia do mês e do semestre – seu segundo filme-ópera, intitulado “Último Dia”. Realizada pela CO.MO (Companhia de Micro-óperas), com recursos da Lei Aldir Blanc através da Secretaria Estadual de Cultura de Pernambuco, a obra de doze minutos é livremente inspirada em um lendário episódio envolvendo um dos maiores compositores pernambucanos de frevo, Levino Ferreira, fazendo referência a um nebuloso e mistificado episódio de catalepsia na biografia do compositor, também chamado de “Mestre Vivo”. De formato bastante multifacetado, unindo teatro, cinema, poesia, performance, música e dança, o filme-ópera também faz referências a Nelson Rodrigues, Freud, Bakhtin, Bergman e Antero de Quental.

Com música, roteiro/libreto, mixagem, edição e direção do próprio Armando Lôbo, a produção tem todo seu elenco baseado em Recife, destacando a presença do personagem do Zé Pereira, coreografado por Marcelo Sena, e que guarda uma semelhança proposital com a figura da morte, conforme retratada por Ingmar Bergman no clássico “O Sétimo Selo”. O artista pernambucano Walmir Chagas (famoso pelo seu alter-ego “Véio Mangaba”) interpreta Levino Ferreira, e as carpideiras são vividas pelas cantoras líricas Natália Duarte, Virginia Cavalcanti e Surama Ramos. No enredo, três carpideiras, em um mundo paralelo, cantam e choram a morte de um mestre de cultura popular, produzindo um surpreendente efeito catártico, resultando no acordar do defunto, que em verdade sofrera uma crise cataléptica. Quanto à estética sonora, a música da ópera tem características bastante plurais, estabelecendo um diálogo entre técnicas eruditas contemporâneas (instrumentais e eletroacústicas) e a musicalidade popular nordestina, especialmente fazendo referências a frevos de Levino Ferreira.

Em forma de ópera-poesia, ou “poemópera” audiovisual, “Último Dia” discute de forma dramática e ácida o universo da cultura popular, a redenção, a carnavalização da morte. “O poeta é aquele que vive no outro mundo, o mundo verdadeiro. Mas, e se ele é convidado a permanecer neste mundo paralelo em que todos vivem? O propósito é mostrar o carnaval enquanto escatologia trágica e invertê-la numa anti-tragédia”, afirma o autor e conclui: “em verdade, a micro-ópera não é sobre a cultura pernambucana, é uma carnavalização funérea de Bergman.”

O artista
Compositor e artista multifacetado, Armando Lôbo também desenvolve e participa de projetos de artes combinadas, unindo vídeo, performance, teatro, literatura e música. Como músico, lançou quatro álbuns que receberam cotação máxima da imprensa especializada. Foi contemplado em importantes concursos nacionais e internacionais, vencendo os principais prêmios brasileiros tanto na música popular (Prêmio da Música Brasileira 2010, com o grupo Frevo Diabo) como na música de concerto (Prêmio FUNARTE de Composição Clássica, em 2012 e em 2016), provando seu ecletismo e abertura a linguagens diversas.

Sua obra tem sido executada por importantes grupos no Brasil, Europa e Estados Unidos. Em 2020 criou a CO.MO (Companhia de Micro-óperas) para produzir projetos audiovisuais com linguagem de ópera radicalmente contemporânea. O primeiro produto da CO.MO foi o curta-metragem Penélope 19, um filme musical de linguagem experimental que aborda o tema da quarentena da COVID-19.

Armando Lôbo é Ph.D. em Composição Musical pela Universidade de Edimburgo, Reino Unido, Mestre em Composição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

Ficha técnica
Armando Lôbo: música, roteiro/libreto, mixagem, edição e direção.
Natália Duarte: soprano
Virginia Cavalcanti: mezzo
Surama Ramos: contralto
Walmir Chagas: ator
Marcelo Sena: coreógrafo / dançarino
Direção de arte: Ana Santiago e Armando Lôbo
Direção de fotografia: Raphael Malta Clasen
Iluminação: Luciana Raposo
Coordenação de produção: Liliane Vieira dos Santos
Direção de Produção: Manassés Bispo

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