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Ruínas

Artistas se desdobram em meio ao sucateamento dos espaços culturais

Publicado

Autor/Imagem:
Pedro Nascimento

‘Brasília foi abandonada!’ Gritou uma jovem no último ato a favor do Teatro Nacional Claudio Santoro, onde artistas se uniram para pedir a reabertura do espaço, sem funcionar desde janeiro de 2014. A cultura da cidade vem mesmo perdendo força. Os espaços que deveriam ser mantidos pelo GDF quase que passam em branco e não existem mais.

Quem chega para conhecer, acaba encontrando as portas fechadas e a placa: “Em obras (intermináveis) ”. A agenda política em busca de votos consome o tempo de nosso apático chefe do Executivo local. O mesmo governador que andava com artistas em época de UnB, parece fechar os olhos para a luta de cada dia dos trabalhadores da cultura.

De cortina aberta, o Teatro Nacional recebeu o balé russo Bolshoi e o balé da Ópera de Paris. Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, Caetano Veloso e praticamente todos os grandes nomes da música popular brasileira também passaram por lá. Hoje, o espaço fecha as cortinas para esconder a triste realidade: jovens que usam o lugar como refúgio para o consumo abusivo de drogas.

Dois espaços que também contam muito a história de Brasília e fazem parte da vida da cidade são o Museu de Arte de Brasília (MAB) e o Espaço Cultural Renato Russo. Em ruínas há tempos, os lugares se transformaram em abrigo para moradores de rua. As noticias são boas apenas para o Espaço Renato Russo, que foi reaberto em 30 de junho deste ano.

Diante da tragédia com o Museu Nacional do Rio de Janeiro no último domingo (2), o secretário de Cultura do Distrito Federal, Guilherme Reis, concedeu entrevista para tratar dos equipamentos culturais da capital federal. O chefe da pasta reconheceu que as estruturas necessitam de mais atenção por parte dos gestores.

Guilherme Reis classificou como “cadeia de abandono histórico” a situação com que todo o país tem tratado os locais de preservação da história. O Secretário admitiu que o Distrito Federal não fica de fora dessa realidade.

“Brasília, a capital do maior país da América Latina, não merece e nunca mereceu os espaços sem a mínima estrutura como os que a gente têm”, defendeu Reis.

Enquanto esses espaços ficam esquecidos, os artistas têm se desdobrado para fazer a arte brasiliense sobreviver, mesmo que a pão e água. Se necessário, transformam a rua e a grama em palco. A atriz e professora de Teatro Simone Marcelo acredita que esses locais fechados piora a situação, tanto para artistas como para todos os brasilienses.

“É difícil fazer arte em qualquer circunstância. Atualmente está muito pior. Contudo, acredito que a classe artística entende que estar em cena é um ato de resistência, aí é natural que ela ocupe outros espaços públicos, que antes eram destinados só à vida cotidiana. ” Ressalta.

O que para Simone é um ato de resistência, é ao mesmo tempo a arte gritando: “eu sei reagir”. O Coletivo Instrumento de Ver surgiu há 15 anos e promove oficinas, grupos de estudos, eventos, e participação em mostras e festivais no Brasil e mundo afora. Como resposta à falta de lugares, o Coletivo decidiu abrir um novo espaço cultural, na Vila Planalto, para atender a demanda que a cidade não dá conta.

“Viver da arte é um risco. E um dos maiores desafios que a gente encontrou nesse caminho foram os espaços culturais. Estão quase todos fechados, por isso a gente resolveu se arriscar ainda mais e abrir esse lugar dedicado a cidade e a formação de artistas. Disse Maíra Moraes, integrante do Coletivo. O espaço contou com apoio coletivo na internet para arrecadar fundos.

Já para o diretor de teatro Alexandre Ribondi, os lugares fechados têm um impacto grande sobre a cultura produzida na cidade. “No Plano Piloto temos algumas salas, como o Teatro do Sindicato dos Bancários e o Teatro Garagem, que é do Sesc. E estão surgindo salas alternativas, principalmente na Asa Norte, que é o caso da Casa dos 4, que iniciou suas atividades em fevereiro de 2017, por quatro sonhadores: Luísa de Marillac, Elisa Mattos, Morillo Carvalho e eu”, conta o diretor.

O local é totalmente mantido sem recursos públicos. “A verba que temos são poupanças pessoais e os trabalhamos que fazemos no espaço. Parece loucura, em época de crise? É uma adorável loucura, porque não temos outra saída e não faz sentido deixar de trabalhar com teatro, que é a minha profissão”, finaliza Ribondi.

A Casa dos Quatro e o Coletivo Instrumento de Ver são alternativas para os artistas e o público não ficarem órfãos de espaços culturais na cidade. O abandonado tem ficado de lado e é promessa do governo dar vida novamente a esses locais, para que não caiam no eterno esquecimento.

Voltando aos eixos – O governador do DF Rodrigo Rollemberg (PSB) disse por meio da assessoria que todos os espaços culturais de Brasília fechados tiveram as obras iniciadas este ano e concluídas no ano que vem.

Espaço Cultural Renato Russo – A reabertura do Espaço foi adiada por três vezes somente neste ano. A última previsão do GDF foi de reabrir para a população em fevereiro de 2018. Porém, o espaço finalmente foi aberto em junho deste ano.

MAB – Desde 2007 abandonado, as obras do Museu de Arte de Brasília começaram em outubro de 2017 e o investimento para recuperar o local passa de R$ 7,5 milhões. A previsão é de que o Museu de Arte fique pronto em novembro deste ano.

Teatro Nacional Claudio Santoro –  Segundo o governo, as obras do Teatro Nacional devem começar em fevereiro de 2018 e não há previsão para que o espaço volte a ser aberto para o público, mesmo com a expectativa do governador em reabrir todos os espaços ainda neste ano.

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