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Estilo difuso

Árvore morta ganha vida pelas mãos de Gaetano Pesce

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Marcelo Lima

Após quase uma década dedicada à difusão de mobiliário vintage das mais diversas procedências – do modernismo francês de Jean Prouvé e Charlotte Perriand a ícones do design brasileiro, como Joaquim Tenreiro –, uma transformação radical parece ter se operado nos corredores da Design Miami, a principal mostra internacional voltada ao setor de colecionismo de design, que aconteceu no mês passado, na Flórida.

Móveis e objetos mais experimentais – quase anárquicos – parecem estar na ordem do dia. Mais expressionistas do que nunca, peças que pareciam implodir qualquer noção mais restrita de funcionalismo foram apresentadas com destaque pela maioria das galerias participantes. Tanto por meio das criações de talentos emergentes quanto entre as produzidas hoje, ou no passado, por designers com anos de estrada, como o italiano Gaetano Pesce.

“A abstração terminou”, sentenciou Pesce, diante do exuberante jardim montado pela galeria nova-iorquina Salon 94 para abrigar sua exclusiva coleção de vasos feitos de resina de poliuretano, apresentada, estrategicamente, ao lado de uma seleção afinada de armários criados por ele ao longo dos anos, reunidos sob o sugestivo título de “Os Armários Falantes”. “Esses objetos dizem o que são. Eles falam por meio de suas formas”, afirmou o designer.

Produzidos na mesma matéria-prima – exceção feita a uma peça que representava um cavalo visto por trás, construído de madeira e revestido com folha de ouro –, os armários em exposição perfaziam uma década de trabalho do designer, de 2006 a 2016. Mais narrativas do que propriamente funcionais, são peças que, guardada toda sua exclusividade, se prestam muito bem à função de armazenar objetos. Mas isso, por certo, seria negar demais sua natureza. Ou, ao menos, aquela imaginada por seu criador.

Sintonizados com um momento que parece pedir mais urgência – e menos modernismo utópico –, os vasos criados por Pesce foram feitos, antes de tudo, para se ter por perto. Neles convivem em harmonia todos os elementos classicamente encontrados em seus trabalhos: cor, alegria, humor, ironia. De aparência jocosa, parecem ter sido feitos de cerâmica rígida mas, uma vez tocados, se revelam flexíveis, macios, quase orgânicos.

Reproduzindo galhos, folhas e raízes, na montagem conduzida pela proprietária da Salon 94 e também curadora do espaço, a norte-americana Jeanne Greenberg Rohatyn, eles próprios abrigavam em seus interiores palmeiras e plantas. De fato, era difícil não atribuir, ao menos em parte, o astral do espaço a essa floresta em miniatura que parecia envolver os visitantes, ao mesmo tempo que celebrava as criações do designer italiano.

“A árvore é um ser vivo que muda com o tempo. Que balança ao sabor da brisa. Eu vejo isso como um milagre da natureza. Por isso, me agrada poder criar um vaso a partir de um material elástico, pelo menos em tese, capaz de reproduzir o movimento dos galhos quando tocados pelo vento”, pontuou Pesce, que este ano, além de participar da mostra patrocinada pela Salon 94, levou suas criações a outras duas ilustres locações na cidade.

A galeria Ca D’Oro, no Design District, onde o designer apresentou, entre outras, a luminária Portrait e ainda no Setai Hotel, onde, em comemoração a seus 76 anos de vida, teve um de seus vasos instalado no pátio central da casa. “Repleto de plantas, vejo esse vaso como um grande ventre. Um ventre materno com seu bebê”, explicou o designer diante da instalação posicionada em meio a uma piscina, com vista para o Atlântico. Sob todos os aspectos, uma locação que parecia ter sido escolhida a dedo para o designer fincar raízes em Miami.

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