Símbolo de cultura
As festas juninas e a fabricação do povo nordestino
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As festas juninas, com suas roupas coloridas, comidas típicas e sotaques carregados, se tornaram um dos maiores símbolos da cultura nordestina. Mas o que está em jogo, muitas vezes, é a construção de um estereótipo. Stuart Hall nos lembra que a identidade cultural é uma construção discursiva. O “nordestino matuto” das festas é uma ficção performada.
A sociologia da representação, presente em pensadores como Edward Said, nos ajuda a enxergar o exotismo embutido nesses festejos. Por trás da quadrilha estilizada, há um desejo de domar o diferente, de folclorizar o povo. As festas, quando apropriadas por grandes marcas e eventos, deixam de ser resistência e viram mercadoria.
Mas o povo resiste. Nas pequenas cidades, nos terreiros improvisados, nas festas organizadas por comunidades, a tradição pulsa com vigor. Ali, os fogos não são apenas barulho: são anúncio de que o povo segue criando sentido para a vida, mesmo quando o sistema insiste em esvaziar seus símbolos.